- Que droga! Acho que é sem ar-condicionado. - Resmungou o Robson, verificando a passagem de ônibus que acabara de comprar. Pegou o troco e saiu do guichê de venda em direção ao local de embarque. O ônibus partiria em quinze minutos. Visitaria os pais em uma cidade do interior. Ao avistar o ônibus seu temor se confirmou: ele não tinha sistema de ar refrigerado. Era um ônibus velho, um pouco sujo por fora, mas opostamente (ou estranhamente), limpo e com poltronas confortáveis por dentro. Embarcou no ônibus e procurou a poltrona 33. Sentou-se da maneira mais confortável possível, abriu a janela, pois fazia muito calor, e ficou a olhar o restante dos passageiros que embarcavam. Conforme surgiam na porta, Robson torcia, ou não, para que sentassem ao seu lado. Torceu negativamente em três oportunidades, e dera certo. Porém, quando a Lindiara, uma morena de cabelos lisos, vestindo uma calça de cintura baixa, que deixava à mostra a marca do fino biquíni, Robson “rezou” baixinho: – Aqui! Aqui! - Mas lhe faltou sorte. Ela sentou na poltrona a sua frente. Inquieto com a “paisagem” vista, Robson refletia com a mão no queixo: – De onde é que saem essas mulheres? Por uma dessa eu trabalhava uns dez dias para ter por duas horas. Por uma dessas, eu removia uma montanha... - Foi quando Lindiara “cortou-lhe” os pensamentos, dirigindo-lhe a palavra e pedindo: – Oi! Você pode abrir a janela pra mim? Acho que está emperrada. Pensou em erguer a mãos para o céu em agradecimento a Deus, mas seria uma cena um tanto cômica para aquela ocasião. Então, pensamentos do que pedir em recompensa fluíram rapidamente. Um sorriso surgiu em seu rosto. Respondeu: – Claro! Com o peito estufado, Robson fica em pé em frente a sua poltrona, entre a dele e a da Lindiara, sobe a manga da sua camiseta até a altura dos ombros, deixando aparecer os torneados braços, e dali mesmo parte para a ação. Empurra a janela com a mão esquerda, mas ela não mexe um só milímetro. Lindiara comenta: – Está emperrada mesmo! - Robson faz aquela cara de: – Calma garota, eu não coloquei toda a minha força! - E parte novamente para a ação. Tenta com a mão direita e nada novamente. Gotas de suor escorrem por baixo dos braços. Lindiara oferece-se para ajudar. Robson nega: – Não precisa. Calma! Eu consigo. - Respira fundo. Os demais passageiros lhe observam. Clama em pensamentos: – Por favor, Deus! Não me deixa passar essa vergonha perto deste “avião”! Abre janela abre! - Então, parte para a ignorância. Com toda a sua força e usando as duas mãos, ele empurra a janela. A “desgraçada” mal se mexe. Um senhor oferece-se para ajudá-lo. Robson nervoso insulta-o. Lindiara intercepta: – Calma! Pode deixar assim com está. - Mas Robson não desiste, abrir aquela janela do ônibus passou a ser questão de honra. “Duela” novamente, o suor lhe escorre pelo rosto, a janela não se mexe. Foi então que surgiu, da poltrona em frente a Lindiara, um menino gordinho, vestindo uma roupa e máscara do homem-aranha, dizendo a ela: – Dexa plá mim tia! O homi-alanha te ajuda! - Falou rapidamente e agiu. O menino, em um lance rápido e único, puxou a janela e abriu-a complemente. Todo o ônibus aplaudiu. Robson pensou em matar o menino, mas não adiantaria, o vexame já estava consumado. Sentou-se encolhido em sua poltrona. De lá viu, resignado, o menino ganhar de Lindiara um saboroso beijo no rosto, e confundindo os personagens, gabar-se de sua força mostrando o bíceps, dizendo: - Comi espenafle hoje!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|