Para falar de Educação é necessário olhar um pouco para a história da nossa Educação. Quando nós olhamos e refletimos sobre a nossa história nós estamos fortalecendo a nossa identidade e quando nós tomamos uma atitude diante da nossa história nós estamos fortalecendo a cidadania. No primeiro texto eu disse que Educação de boa qualidade é aquela que faz diferença positiva na vida das pessoas. Quando fiz esta afirmação eu me reportei a um conceito de saber que acredito: “saber” em seu sentido amplo, é uma compreensão que engloba conhecimentos, competências, habilidades e atitudes (Tardiff 2000, p. 11). Nesse sentido o papel da escola e do professor não são apenas o de transmissores de saberes produzidos por outros, mas de agentes construtores de saberes profissionais. Existem vários saberes importantes mas para mim o saber-fazer é o que mobiliza todos os outros saberes na prática pedagógica. O saber teórico é importante para a formação do professor mas ele é apenas o começo dos saberes da docência. Para ficar mais claro o assunto que estou abordando vou contar uma experiência que ficou marcada na minha jornada profissional. Estava trabalhando em um projeto de pesquisa que tinha o objetivo de avaliar o impacto que as diferentes políticas educacionais causam na vida dos estudantes da rede pública. Neste trabalho eu entrevistava professores, diretores, pais de alunos e aplicava um teste nas crianças. Foi um trabalho muito importante, principalmente para o enriquecimento do meu saber profissional. Ao entrevistar uma mãe, bastante simples porém rica de sabedoria, eu perguntei: - A senhora acha que a escola do seu filho é boa? Ela respondeu que sim que a escola do filho era muito boa. - Por que a senhora acha que a escola é boa? E ela me disse: - Quando meu filho entrou na escola ele não sabia nada. Hoje ele sabe atender ao telefone, anota os recados para todos os vizinhos. Ele lê os recados para aqueles que não sabem ler, como eu. Eu novamente lhe fiz uma pergunta. - O que a senhora deseja que o seu filho seja? Ela me respondeu com muita certeza e alegria: - O meu filho vai ser médico para poder ajudar ainda mais todos os vizinhos. Vejam como uma simples mãe pode avaliar a qualidade da escola. Ela não precisou aplicar nenhuma prova e tampouco se referiu à nota que o filho tirava ou deixava de tirar na escola. Ela avaliou o desempenho do filho no seu dia a dia. Esta forma de avaliação é equivalente ao portfólio. Esta é uma forma de avaliação que pela comparação vai levando a pessoa a refletir o percurso dos seus estudos. Esta mãe que nem sabia ler sabia considerar os princípios do portfólio como avaliação intuitiva. Isto mostra que o saber é muito amplo e todos os seres humanos são possuidores dele. Quando uma criança chega na escola, no primeiro ano escolar ela traz de sua casa este tipo de saber que esta mãe demonstrou quando respondia a pesquisa. A escola não pode ignorar este saber. Ela não pode achar que o saber dos livros que a criança vai aprender na escola é mais importante. Ele não é mais importante nem menos importante ele é apenas diferente. A diversidade é uma grande riqueza se nós soubermos nos apropriar dela. Caso contrário poderá ser um desastre. A pesquisa na escola é uma forma de enriquecimento curricular que beneficia o trabalho com a diversidade. Ela pode ser muito rica tanto para os alunos como para os professores e para toda a comunidade. Você constrói conhecimentos e pára para pensar neles ao invés de dizer eu acho isto ou aquilo. Você deixa de falar com os seus botões para refletir com eles. Eu tenho falado bastante em reflexão. A reflexão é um exercício que devemos fazer sempre. Às vezes a gente fala muito em atitudes que se deve tomar antes de escrever alguma coisa sobre alguém ou sobre alguma coisa e quando a gente escreve esquece as regras que receitou aos outros. É prudente que se pesquise antes de se abordar determinado tema para não ser injusto com você mesmo ou com os outros. Se for sobre uma pessoa é bom obter-se um pequeno curriculum da pessoa mas se ela for um personagem público, aí as regras serão muito diferentes. A Diversidade que me referi no início será o tema do encerramento desta nossa conversa. É necessário abordar este tema como um tópico uma vez que afirmei a importância da sua riqueza. A Globalização é uma força que ninguém pode parar. É um processo global que vai sempre se deparar com um poder local. Aí está a riqueza da diversidade que traz, e, da diversidade que encontra. Este processo dinâmico é o enriquecimento cultural que se dá no embate das diferenças. É preciso aprender com a diferença e somar conhecimentos. Para termos uma atitude adequada diante da diversidade precisamos fortalecer a nossa identidade e a nossa cidadania e assim estaremos fortalecendo o poder local. Se o nosso poder local estiver bem construído o debate com a globalização será muito proveitoso e rico de conhecimentos. Continuaremos a falar deste assunto nos próximos dias.
Nota do Editor: Deusdith Bueno Velloso, nascida em Ubatuba, é professora aposentada, formada em Letras e Pedagogia e Mestre em Comunicação Social.
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