Mulherengo! Essa era a fama ostentada por Pablo na cidade. E ele gostava de ser conhecido assim. Afirmava – Chama mulher. E eu gosto de mulher! O que era uma verdade. Havia sempre candidatas a se enlaçarem entre os seus beijos e abraços, apesar dos riscos. Outra verdade é que ele era um rapaz bonito, de fala mansa e de atos românticos. Sim! Pablo era um ser extremamente romântico, ainda que pareça antagônico ser mulherengo e romântico. Essa combinação arrancava suspiros. Faz três meses que a Ana Luíza aceitou o “desafio”, ou melhor, começou a namorar Pablo, mesmo com o alerta das amigas. Conheceu-o em uma festa, e deste então, o namoro desenrolou-se. Ela era uma dessas meninas classificadas como “Patricinha”. Acho que não preciso falar mais nada. Com o conhecimento da “ficha completa” de Pablo em mãos, Ana Luíza não perdeu tempo, e logo “sacou as suas armas”. Desde o início do namoro, começou a monitorar, escondida, o celular dele, o Orkut, as companhias etc. Mantinha atenção constante, o que, diga-se de passagem, não parecia ser suficiente, pois havia sempre um boato envolvendo-o com alguma garota. Ele negava, mas isso ele também fazia com as namoradas anteriores. Entre os amigos, quando questionado, apenas proferia o ditado popular – Onde há fumaça, há fogo! E saia sorrindo. Pablo tinha um “dom” (Notado, aclamado e invejado por seus amigos) de estar acompanhado pela namorada, mas sempre dar um jeito de olhar para as outras mulheres, sem o perceber da “oficial”. Tinha as suas técnicas “secretas”, claro! Entretanto, o fato de, mesmo em dias nublados, usar óculos escuros deixava alguns indícios. Pois bem. Era sábado, por volta das 18h00min. Pablo e Luíza saíram do Shopping, onde assistiram a um filme, e foram para uma parada de ônibus. Enquanto aguardavam a chegada do ônibus, ficaram abraçados, de forma que Ana Luíza ficou de costas para Pablo. Em frente a esta parada, havia um parque, utilizado rotineiramente para caminhadas e corridas. Assim que pararam no local, Pablo logicamente visualizou o referido parque, bem como as mulheres que com suas calças “coladas” por lá transitavam. E ele não perdeu tempo. Utilizando as suas técnicas, discretamente, começou a deliciar-se com os belos corpos femininos que circulavam no seu raio de visão. Ana Luíza nada percebeu. Encantando com o que via, começou mentalmente a torcer pela demora do ônibus, pois não queria perder um só par de coxas. Aliás, nem sabia para qual olhava, visto a abundância de opções. Mas foi então que, ele enxergou um cruzar de pernas, vestindo uma calça preta com detalhes em branco na parte traseira. Eram as coxas mais torneadas e os glúteos mais redondos que já vira. Fixado, nem olhara para o resto do corpo. Acompanhou o “bailar” do conjunto com tamanho afinco que, em um instante de descuido, mostrando o quanto estava gostando, mordeu o seu lábio inferior. Por falta de sorte, Ana Luíza olhou-lhe neste exato momento. Vendo o gesto do namorado, ela rapidamente virou-se e olhou na mesma direção de Pablo. Reconheceu aquela “calça preta”. Morava no seu bairro. O sangue lhe “subiu a cabeça”. Irritou-se. Flashes emergiram do “baú” da memória com os alertas recebidos sobre a fama de Pablo. E vingativamente, não pensando nas conseqüências, encarou-lhe, e lascou, em um tom audível a todos da lotada parada, com a linguagem surgida sem reflexão: - Bonito Pablo! Nem veado tu poupas mais!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|