Primeiro dia de aula. E como sempre acontece nesta ocasião, muitas apresentações foram feitas, muitos amigos revistos nos corredores etc. Mas o principal (e o que gera maior ansiedade) é para ver quem serão os colegas de aula. Neste ano, poucos se conheciam dentre a turma, por isso o primeiro intervalo já serviu para iniciar um contato mais íntimo. Reuniram-se para conversar em frente à sala o Eduardo, o Gilmar, o Leonardo, o José, o César e o Raul. Falavam das suas preferências futebolísticas, quando passou pelo grupo a Tatiana, uma morena conhecida pelo seu belo par de nádegas. Foi o Eduardo exclamar um - Nossa! Que o assunto mulher entrou em pauta. Começaram pelas suas colegas: - O que vocês acharam da nossa colega Rafaela? - Gatinha! - É... Gatinha. - Bonita! Mas o Raul foi de opinião contrária: - Vocês estão loucos! Até o nariz torto ela tem... A turma apenas olhou-se. Passaram então para a Manoela. - E a ruivinha do canto. Gostosa né? - Manoela é o nome dela... - Gostosa mesmo! - Bem gostosa de corpo... E bem bonitinha de rosto! - Tem uns peitões, né? E novamente o Raul sentenciou a sua opinião: - Aposto que ela é cheia de celulite... E assim seguiu. A turma analisando as mulheres e o Raul opinando opostamente ao grupo, sempre destacando um defeito da avaliada. No instante que ele ausentou-se para ir ao banheiro, o Eduardo não perdeu a oportunidade e comentou: - A namorada do Raul deve ser muito linda, pois o cara colocou defeito em todas as gatas que por aqui passaram. Muitas para casar e ele esnoba desse jeito... Todos concordaram. Os dias seguintes foram da mesma forma. O grupo falava em uma mulher e logo o Raul dava um jeito de "desmistificá-la", apontando um defeito ou coisa que havia feito. Foi então que, certa terça-feira, o Gilmar entrou correndo na sala de aula, e mesmo resfolegante, conseguiu proferir: - O Raul vem vindo com a namorada no carro. Só não consegui ver o rosto... O grupo prontamente sai e pára em frente à sala para ver a suposta beldade. Quando a enxergam ficam pasmados. Era com certeza uma das mulheres mais feias que já haviam visto, tanto de rosto como de corpo. Chamá-la de gorda seria até um elogio. Usava um vestido floreado que logo foi comparado a "capinha" colocada nos botijões de gás. Um saliente "bigodinho" era visto de longe, sem falar nos óculos "fundo de garrafa". Raul passa pela turma e apenas acena com a cabeça. Um silêncio paira no ar. Então, o José deixa escapar um: - Só pode ser... Todos lhe olham. Eduardo indaga: - Só pode ser o quê? E ele, sem conhecimento de causa, e esquecendo dos anos que fora coroinha da igreja, sentencia em tom profético, como se achasse o motivo: - Macumba! Isso só pode ser macumba!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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