- Hoje! Farei barba, cabelo e bigode. Afirmou o Seu Adão à esposa durante o café da manhã daquele ensolarado sábado. Parece uma afirmação corriqueira, de alguém que simplesmente se dirigirá ao barbeiro, certo? Não para o Seu Adão. Explico. É que o Seu Adão usa barba há trinta anos, desde os seus 27. Apesar de alguns fios brancos, não era uma barba de "papai Noel", era uma barba bem aparada, "conservada" no capricho. A decisão de mudar o visual viera com a aposentadoria. O dia anterior havia sido o seu último na indústria farmacêutica onde trabalhara por 30 anos. - Vida nova daqui para frente! Exclamava. E como primeiro ato para consolidar esta nova etapa da sua vida resolveu raspar a barba. Achava que assim, se desligaria por completo da empresa, pois o "deixar a barba crescer" coincidiu com o início da atividade profissional. A esposa, entre um gole e outro de café, ouviu tudo em silêncio. Deixou o Seu Adão argumentar o porquê de sua decisão, quando a tomou etc. Então, duvidou - Quero só ver... Seu Adão irritou-se com essa incerteza levantada pela esposa. Classificou a fala como provocação. Levantou-se da mesa e assegurou - Duvidas? Tu verás! Verás! E rumou para o barbeiro. O próprio Seu Adão não se reconhecera. Rejuvenescera no mínimo uns dez anos sem a barba. Logo que saíra da barbearia, o taxista Clodoaldo, comentou - Ficou bonito hein Seu Adão! E assim realmente estava se sentindo: bonito e jovem. No caminho de volta, por onde passava alguém elogiava o novo visual. A auto-estima aumentara, e até uma ponta de vaidade apareceu depois de tamanha bajulação. Quando finalmente chegou ao prédio onde morava, ao ingressar pelo portão de acesso principal, encontrou-se com a Thaís, filha do seu Miguel, do 5° andar, que saía para um passeio de bicicleta. Thaís era uma bela moça. Uma morena de cabelos lisos, rosto com traços mexicanos, e um corpo, mais um corpo. Para ilustrar melhor: ela já havia pousado nua para algumas revistas masculinas, como coadjuvante, diga-se bem a verdade, mas o detalhe é que em nenhuma das fotos precisou do "auxilio" do computador. Tudo "natural"! Não preciso falar mais nada. Pois bem. Thaís olhou duas vezes para certificar-se que era mesmo o Seu Adão. Ainda perguntou - Seu Adão? Ele, com um sorriso no rosto, redargüiu - Pois é! Ela seguiu - Nem reconheci o senhor... Ficou bonitão, hein? Seu Adão ficou "vermelho", mas agradeceu - Obrigado! Então, Thaís completou - Se o senhor tivesse dez anos menos, eu até daria em cima do senhor! Falou isso e mordeu os lábios. Seu Adão não se deixou "abater" por tal declaração, estufou o peito, e relembrando os tempos de jovens, foi responder a Thaís com uma bela cantada, quando escutou - Bonito! Hein Adão? Era a esposa, gritando da janela do 4° Andar. Ele, sem perder a compostura, virou-se categoricamente, olhou para esposa, e apontando para Thaís, replicou calmamente sem medir os riscos - Pois é, meu amor! Ela também achou...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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