O Marcinho esperava uma cópia na impressora. O Luciano finalizava alguns relatórios no computador ao lado. O seu Bento, de costas para eles, fazia uma pesquisa na internet. Trabalhavam em uma grande empresa, em uma sala no 2° andar do prédio de um total de oito. Era segunda-feira, jovens e solteiros, Marcinho e Luciano conversavam sobre as festas do final de semana. Seu Bento, casado e sem mais idade para essas molecagens, segundo ele próprio, apenas escutava. O papo estava animado, com Marcinho falando das suas últimas aventuras amorosas. Foi quando entrou a Monique, do 6° andar, ou melhor, do setor de marketing. Era uma ruiva de cabelos pelos ombros, olhos esverdeados, nariz empinado e largo quadril. Ela ingressou na sala e o silêncio foi imediato. Cumprimentou o trio e entregou alguns papéis para o seu Bento e despediu-se. Foi ela distanciar-se um pouco, e logo o Marcinho comentou com o Luciano: - Que conjunto, hein! - É... Mas tira essa calça de brim, a gravidade atua naquela bunda. Calça de brim engana. - Será? - Pode ter certeza. - A bunda é muito grande, né? - É... - Será que alguém já a viu de biquíni? - Acho que não, nunca ouvi comentários. - É... Eu também não. - Sem contar que ela não é a Juliana Paes. Deve estar cheia de celulite... - É né? - É... Transar com uma mulher com muita celulite não é excitante... - Tu que estás dizendo isso... - Está certo... Tu não podes saber... Não transas com ninguém mesmo! - Sai daí, garanhão! - Obrigado pelo reconhecimento... Quer ver como tenho razão? Vamos ouvir uma segunda opinião... Né seu Bento que transar com uma mulher com muita celulite não é excitante? E o seu Bento, que até então ouvira tudo em silêncio, virou-se na cadeira, olhou os dois por cima dos óculos, e sentenciou: - Jovens. Jovens perfeccionistas! Tudo é luminosidade... - Tudo é luminosidade. Como assim seu Bento? Replicou Luciano desconfiado. Seu Bento olhou para um quadro na parede por um instante, um olhar “solto”, como se lembrasse de algo, e no auge da sua sabedoria, respondeu pausadamente: - Tudo é luminosidade... Tudo depende da luz... Da luz do quarto, meu filho!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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