Era a primeira vez que o Osvaldo acompanhava a Neuza no supermercado. Também pudera, namoravam oficialmente há apenas uma semana. Foram apresentados por uma amiga em comum, em um dentre os vários bailes para a “terceira idade” existentes. Dançaram algumas músicas, conversaram, e uma rara afinidade apareceu, então, resolveram, com um “empurrãozinho” da Neuza, tentam o relacionamento. Osvaldo chegou à casa da Neuza com o seu Uno no horário combinado. Neuza entrou no carro, e ainda tímido, como era de sua personalidade, Osvaldo deu um beijo “selinho” nela e rumaram para o supermercado. Osvaldo dirigia o carrinho do supermercado feliz da vida, apesar de pouco demonstrar, pois ser inibido era uma de suas características. Entretanto, embora essa peculiaridade, durante as compras, ele deu dicas de marcas, pesquisou preços, uma dedicação até então nunca vista por Neuza, que fora casada por duas vezes, e jamais vivenciara tal experiência com os anteriores. Eis que o casal finaliza as compras e dirige-se ao caixa de pagamento. O supermercado está lotado e as filas nos caixas estão extensas. “Entram” em uma das filas. Osvaldo, cuidadosamente, verifica se tudo que constava na lista de compras da Neuza foi adquirido. A fila vagarosamente vai se dissipando. Osvaldo e Neuza, enquanto esperam, conversam sobre preços e a qualidade dos produtos. Finalmente, aproximam-se do caixa. Falta apenas um casal a ser atendido. Neuza, como a maioria das mulheres, tomada pela curiosidade, especula as compras deste casal. Osvaldo aproveita este único momento de distração, olha para os dois lados averiguando se alguém o observa, e então, discretamente, com a ponta dos dedos, pega um pacote de camisinha na gôndola em frente ao caixa e rapidamente atira-o para dentro do carrinho. Não que Osvaldo pretendesse usá-las, e sim, mais pelo seu valor simbólico, pois ainda sentia-se envergonhado em falar sobre sexo com a nova companheira. Neuza sem aperceber-se do pacote, começa a tirar as primeiras compras do carrinho, mas como no momento o caixa estava sem o empacotador, ela mesma toma a iniciativa de realizar tal ação. Com isso, Osvaldo fica responsável por tirar as compras e alcançá-las para a operadora de caixa. E por ironia do destino, ou estratégia talvez, o pacote de camisinha é o último produto dentro do carrinho. Ele, tomado pela vergonha, com a face vermelha, entrega o pacote de camisinha para ser registrado o preço. A operadora de caixa observa o pacote e olha para Osvaldo, como se dissesse: - Tu hein, tio? E abre um sorriso sarcástico. Osvaldo passa do tom vermelho para o bordô. A operadora tenta registrar o preço da camisinha através do código de barras uma vez e não consegue, uma segunda vez e também não, uma terceira e novamente não obtém o resultado esperado. Então, ela, sentada em uma cadeira que estava, vira-se para trás para chamar alguém. Osvaldo, em pânico, ainda tenta interceptá-la para que o pior não aconteça: - Moça! Moça! Não! O valor é... Mas era tarde demais. A operadora já havia gritado para uma auxiliar que estava a cerca de 10 metros: - Gerusa! Vê quanto custa esse pacote de camisinha pra mim!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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