O Diretor da empresa bateu a caneta na mesa e afirmou para o seu assessor: - Convenceu-me! Vou reduzir o quadro... Isso foi apenas o que ouviu o eletricista Milton, que trocava uma lâmpada na sala ao lado da pertencente ao Diretor. Foi o suficiente! Na hora do almoço, Milton chegou ao restaurante da empresa e lascou para seis colegas: - Estão sabendo da novidade? Não! A empresa vai reduzir o quadro de pessoal... Ainda questionaram: - Quem te falou Milton? Ele redargüiu: - É só o que se fala no prédio da direção. Pronto! Logo a história das demissões foi sendo repassada de setor a setor da empresa. Foi um rebuliço na fábrica! Funcionários cochichavam nos corredores e no vestiário. Uma crise! Os mais velhos de empresa diziam que a maior das crises acontecera em 1982, onde desligaram mais de duzentas pessoas. Certo! Já tinha um número. Mais de duzentos iriam “para a rua”. Alguns questionaram a informação, pois o seu superior nada falara até agora. – É estratégia! Afirmaram os convictos – Onde há fumaça, há fogo! Diziam os convencidos. Os puxa-sacos “rezavam” pelos cantos: - Menos o meu chefe! Menos o meu chefe! Os mais escorados pararam de vez, afinal, iriam ser demitidos mesmo. Então, surgiu o questionamento: - Em qual setor seriam as demissões? O pessoal da operação da fábrica adiantou-se, e saiu falando que era muita gente “parada” no apoio, na parte administrativa, por isso a empresa não crescia. O pessoal administrativo replicou afirmando que na operação só tinha incompetente, pois não realizavam perfeitamente as tarefas idealizadas por horas. Eis a justificativa da empresa não ir para frente. Uma guerra de egos se formou! O boato da demissão de duzentos funcionários chegou aos ouvidos dos chefes de setores, que telefonavam entre si em busca de respostas. O chefe de RH não sabia de nada, mas comentou: - Certa vez pensamos em fechar o setor J... Estava acabado! Duzentas pessoas do setor J seriam demitidas. O sindicato da categoria logo foi avisado das demissões em massa, e protestou, com faixas e carro de som, em frente à empresa. Isso chamou a atenção da imprensa. A crise de mais uma fábrica no estado foi o principal destaque dos jornais do dia seguinte. O Diretor da empresa que havia viajado a negócios para o Uruguai voltou às pressas, e convocou todos os funcionários para uma reunião de emergência, na quarta-feira, às 14h00min, no auditório central. Quarta-feira. Um clima de apreensão toma o auditório. Alguns funcionários do setor J lagrimejam. Será sacramentado o ponto final da história de muitos na empresa. O Diretor começa a sua explanação: - Uma crise instalou-se em nossa empresa. O boato da redução de quadro tomou o “chão de fábrica”, a cidade, e os jornais... Um silêncio mórbido “paira” no auditório. O Diretor segue: - O único quadro que eu pensava em reduzir, aconselhado pelo meu assessor de marketing, é aquele com a minha foto em tamanho real, na entrada do meu escritório... Quando o diretor pronunciou isso, foi aquela vibração, como se ocorresse um gol. Gritos, abraços, uma festa. Ninguém mais seria demitido. Tudo não passara de um boato... - Pessoal! Pessoal! Um instante... Solicita o Diretor. O auditório novamente silencia. - Só que como esse boato gerou uma crise. E crise vocês sabem, nunca é boa. A empresa acabou perdendo alguns clientes e acionistas. Com isso informo que como estratégia para redução de custos, iremos desligar alguns funcionários, duzentos no total...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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