Era a primeira rodada do campeonato municipal de futebol de campo. A presença de público impressionara até os organizadores do evento. Quase trezentas pessoas estavam no campo esportivo para assistir São Nicolau X Milan Cover, pela chave A do torneio. Duas horas antes da partida, o técnico do São Nicolau ficara sabendo que o seu goleiro titular não compareceria ao jogo, pois estava em horário de trabalho e não conseguira liberação. Por lógica, quem assumiria a posição seria o primeiro reserva. Eis o segundo problema: ele caíra de moto na noite anterior, já saíra do hospital, não sofrera nada muito grave, mas precisava ficar em repouso absoluto. E é assim que entra o Tavinho, segundo goleiro reserva, na nossa história. Sem alternativas, o técnico do São Nicolau telefonou para o Tavinho e avisou-lhe da sua titularidade naquela tarde de domingo. O Tavinho não levava muito jeito para o futebol, muito menos para goleiro. Fora inscrito na equipe por ser dono de um ônibus, na qual segundo os planos da equipe, seria fundamental no futuro, pois almejavam jogar torneios fora da cidade. Faltavam quinze minutos para iniciar o jogo e o Tavinho não aparecia. O lateral esquerdo já estava fardando-se de goleiro quando o ônibus surgiu, lotado, ao som de pandeiros e cavaquinhos. - Trouxe a minha torcida, rapaziada. Exclamou Tavinho, no vestiário. Era esposa, mãe, pai, cunhados, vizinhos e etc. Todos com o objetivo de incentivá-lo no primeiro jogo oficial da sua carreira como goleiro. Começa a partida. Com exatos 17 segundos, “um balão” é dado do meio-de-campo em direção ao gol defendido por Tavinho. – Minha! Gritou para os zagueiros, saindo debaixo das traves em direção a bola. Ofuscado pelo sol, ele perde-a de vista. Ela quica na sua frente, na entrada da pequena área, passa-lhe por cima e entra na goleira. Gol! São Nicolau 0 x 1 Milan Cover. Os torcedores do Tavinho ficam incrédulos. Não podia estar acontecendo aquilo. Mas estava, e pior, tinha mais... Aos três minutos de partida, a bola é recuada pelo zagueiro para Tavinho, que pressionado pela aproximação de um adversário, assusta-se e tenta chutar a bola para a lateral. O chute sai fraco, a bola cai aos pés do atacante do Milan Cover. Não deu outra. São Nicolau 0 x 2 Milan Cover. A torcida do Tavinho que era só festa antes do jogo, após esse lance pára por completo o seu incentivo. Sentam-se e quietos assistem o restante da partida. Os demais expectadores é que começam a zombá-lo. Gozação que aumenta a cada nova trapalhada em campo. Trapalhadas que sempre resultavam em gol para o adversário. O placar marcava São Nicolau 0 x 5 Milan Cover ao término da primeira etapa. No segundo tempo o “show” proporcionado pelo Tavinho fora maior. Quem assistia ao jogo gargalhava sem parar. A chacota era geral. Gritos satirizando-o eram ouvidos aos montes. Até um cântico zombando-o entoaram: - Com o Tavinho campo... Com o Tavinho em campo, não tem placar em branco! O placar da partida indicava São Nicolau 0 x 11 Milan Cover. Foi então que, aos 38 minutos da segunda etapa, o Tavinho realiza a sua primeira defesa no jogo. Uma bola cruzada da direita para o centro da área. O centroavante do Milan Cover erradamente cabeceia. A bola dirigia-se para fora de campo, mas o Tavinho a interceptou dando uma linda “ponte” e espalmando-a para escanteio. A mulher do Tavinho, que agüentara todas as gozações ao marido “friamente”, não titubeou. Levantou-se e gritando, lascou: - É isso aí! Mas bah... Que baita goleiro!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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