Ano 1 - Nº 8 - Ubatuba, 17 de Maio de 1998 |
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· Do mundo Prá Paraty Para o mundo Pedro Paulo Teixeira Pinto articulista@ubaweb.com
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UbaWeb conversa com Marcos Ribas
Os bonecos do Grupo Contadores de Estórias são famosos em todo o mundo. O grupo já se apresentou em teatros importantes como a Maison de Culture du Monde, em Paris, e também em festivais como o de Nancy, na França, e o Next Wave de New York.
O espetáculo Em Concerto, cartaz atual do grupo, divide-se em sete cenas, tiradas de trabalhos anteriores. O grupo se apresenta no Rio de Janeiro, no Teatro Delfim, até o fim de maio, de sexta a domingo.
UbaWeb - Por que escolheram Paraty para morar?
Marcos Ribas - Estávamos no Rio de Janeiro e nos apresentávamos também em outros estados. Há cinco anos o espetáculo Em Concerto está em cartaz aqui em Paraty. Paraty tem a nossa cara.
UbaWeb - Como surgiu o teatro de bonecos que vocês fazem?
Marcos Ribas - Foi uma criação nossa e o próprio grupo confecciona os bonecos. No começo os bonecos eram grandes e dificultavam as nossas viagens. Daí o tamanho dos bonecos de agora que medem de 40 a 60 centímetros e cabem facilmente em malas.
UbaWeb - As pessoas de Paraty assistem ao seu trabalho?
Marcos Ribas - Aqueles que tem a ver com teatro, sim. O teatro não é uma arte muito procurada entre nós. Já fazíamos esse tipo de trabalho antes de vir para cá.
UbaWeb - Paraty é bastante visitada por turistas estrangeiros, e o teatro de vocês sendo sem palavras deve facilitar a freqüência desses turistas, não é mesmo?
Marcos Ribas - É verdade. Por outro lado, em recente pesquisa da Secretaria de Turismo e Cultura de Paraty, 78% das pessoas que visitaram Paraty na temporada de verão de 1996/97, foram de nível universitário, o que é indicador de um público mais sensível ao teatro. Isto nos difere culturalmente das cidades do Litoral Norte Paulista, região vizinha, e de Angra dos Reis.
UbaWeb - Vocês costumam excursionar com seu trabalho?
Marcos Ribas - De 1992 a 94 não passamos mais de quinze dias em Paraty entre uma e outra viagem que incluíram o Brasil e o exterior. Agora revertemos e os dois últimos espetáculos estreamos em Paraty.
UbaWeb - Num dos folhetos do Grupo Contadores de Estórias vocês relatam que o mote principal do grupo é a emoção. Como você vê a questão da emoção num momento em que o neo-liberalismo, através do que se chama de "pensamento único" busca nivelar mundialmente o comportamento das pessoas?
Marcos Ribas - A função principal da arte é emocionar e num cenário de pensamento único o papel da arte se torna mais importante. A emoção é a geradora de fatos novos. A Fundação Rockfeller que tem trabalhos de pesquisas de grande profundidade indica que o multiculturalismo macifica e nivela, prejudicando a produção de coisas novas, e em conseqüência pondo em risco a empresa. A emoção é que é a geradora de fato novo.
UbaWeb - Você foi Secretário de Turismo e Cultura de Paraty, no primeiro ano da atual administração municipal. Com o trabalho intenso do grupo e essa dedicação inteira à arte que vocês fazem o que o levou à aceitar o cargo?
Marcos Ribas - Duas coisas: o carinho que eu tenho pela cidade e a amizade que tenho por Dedé, o prefeito. Assim, assumi o compromisso de durante um ano estruturar o setor, deixando-o após. E foi o que fiz.
UbaWeb - Vocês recebem alguma subvenção municipal, estadual ou federal?
Marcos Ribas - Temos orgulho de poder dizer que não recebemos nada disso.
UbaWeb - O que o grupo tem de novidade?
Marcos Ribas - Novidade há, mas deixa acontecer primeiro.
Em Concerto
"Em Concerto" é trabalho de fino artesanato, de ourivesaria ricamente delicada, e ao mesmo tempo singelo, sutil e comovente.
Quem foi à Paraty e não viu o espetáculo, volte logo se não quiser ficar em falta com a alta sensibilidade.
Pela disponibilidade com o fazer teatral, pela excelência da qualidade de sua criação, o Grupo Contadores de Estórias fala por si só, pela sua integridade com o teatro, pela inteireza e verdade com o que ousa criar, confundindo-se harmoniosamente com o poema de Geir Campos:
Operário do canto, me apresento
sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,
minha alma limpa, a face descoberta,
aberto o peito, e - expresso documento -
a palavra conforme o pensamento.
Fui chamado a cantar e para tanto
há um mar de som no búzio do meu canto.
Trabalho à noite e sem revezamentos.
Se há mais quem cante, cantaremos juntos;
Sem se tornar com isso menos pura,
A voz sobe uma oitava na mistura.
Não canto onde não seja a boca livre,
Onde não haja ouvidos limpos e almas
afeitas a escutar sem preconceitos.
Para enganar o tempo - ou distrair
criaturas já de si tão mal atentas,
Não canto...
Canto apenas quando dança,
nos olhos dos que me ouvem, a esperança.
"Da Profissão do Poeta"
GRUPO CONTADORES DE ESTÓRIAS - TEATRO ESPAÇO
Rua Dona Geralda, 327 - CEP: 23970-000 - Paraty - RJ Telefone: (024) 371-1575 - Fax: (024) 371-1161 E-mail: ecparaty@ax.apc.org |
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