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Ano 1 - Nº 12 - Ubatuba, 13 de Setembro de 1998
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· Misturando alhos com bugalhos
    Aládio Teixeira Leite Filho
    articulista@ubaweb.com

Domingo, época de temporada, a Praça da Matriz lotada, uma festinha da igreja Matriz em andamento, bingo, barraquinhas de cachorro-quente, quentão e vinho quente, a criançada barulhenta correndo alegremente, adolescentes na paquera, o maior tumulto. No meio da festa, no momento em que esta atingira seu clímax, o Vardemá já pra lá de Bagdá, corre na Fundart e não sei por que cargas d'água entra embaixo da Maria Angú, e cai aqui, cai ali vem pra praça, chegando exatamente no momento em que estaciona um carro e a família vai saltando um a um e, nesse ínterim, o Vardemá vem chegando e encosta no dito carro bem na hora em que uma linda menininha salta do interior do automóvel. Quando esta dá de cara com o Vardemá travestido de Maria Angú, tomou um choque e desmunhecou sem sentido. Foi um sururu na área, a mãe da menina nervosa tentava reanimar a menina e xingava o Vardemá, que por sua vez no porre em que se encontrava, saiu pela praça trôpego embaixo da Maria Angú, cai aqui, cai ali, e a mulher a blasfemar, querendo que o marido enfiasse a mão no Vardemá e este, retrucava com a mulher que não podia fazer isso, pois tratava-se de uma iniciativa folclórica da cidade, argumento que certamente salvou o beberrão contumaz de levar uma boa surra naquela noite.

Ubatuba, como qualquer cidade pequena, é pródiga destas figuras carimbadas que, divertem ainda que, em alguns momentos possam causar contratempos como o ocorrido no episódio do famoso Vardemá.

Temos por exemplo um simpático mentiroso o seu Belinho que conta cada história de deixar a gente de queixo caído.

Certa feita, nos contava ele, que adquiriu um terreno em cima de um morro no Ipiranguinha, não valia muito, pois na época o referido bairro não era tão grande e nem contava com o contingente populacional de nossos dias; deu uma chuva forte e o terreno veio parar na Praça Treze de Maio, valorizando mil por cento, foi a maior sorte que dei até hoje dizia ele entusiasmado, pois não é todo dia que a gente consegue transferir sem ônus nenhum, um terreno de um bairro distante e problemático como o Ipiranguinha para o centro da cidade.

Mais a que deu pano pra manga mesmo, foi a história que contou para uma vizinha. Velhinha tinhosa, dessas que faz um pandemônio por qualquer coisinha; ocorre que a casa da mulher estava sendo reformada e ela comentava com o Belinho, que nos quartos colocaria taco, ao quê o Belinho retrucou: - Taco é bom, é um piso que não pega umidade, o quarto fica mais quentinho, só tem um inconveniente, uma vez coloquei taco na minha casa e fui fazer uma viagem. Fiquei um ano fora, quando voltei, abri a porta a casa por dentro estava uma floresta, tinha até animais silvestres, o taco havia brotado e já tinha árvore com diâmetro que dava para fazer uma canoa. A velhinha apavorou e foi pra cima do marido, azucrinou tanto a cabeça do pobre coitado que o taco acabou não sendo colocado.

O Belinho é mesmo um desses caras incríveis que não perde uma oportunidade para tirar um sarrinho. Um dia transitando pela rua Dona Maria Alves, quando passava na porta da agência do correio, o gerente que na época era o Zé Correia o chamou. Belinho estou com um problema aqui na agência, o telhado está cheio de goteiras, isto aqui está um verdadeiro pandemônio, ao que o Belinho retrucou: - Me diz uma coisa Zé. A goteira é só quando chove?

- Logicamente Belinho.

- Então não esquenta Zé, não chove todo dia.

Mas pena que estes líricos e bons tempos em Ubatuba estão acabando, parece que o mal humor, reflexo da conjuntura econômica e social extremamente deteriorados que do dia para a noite assolou nossa cidade e que, exacerbam-se ainda mais com os inúmeros problemas acarretados pelos pretensos fiscais da natureza... estão cada vez mais inibindo com que nossos cidadãos tenham ânimo para um comportamento mais ameno, vivemos uma época de muitos regulamentos e para o caiçara isto passou a funcionar como se estivesse preso dentro de uma gaiola e, não existe nada mais lamentável do que o canto de um passarinho engaiolado... As leis ambientais que hoje proliferam ao "deus dará", funcionam como verdadeira camisa de força, o caiçara não pode pescar livremente, fazer sua lavoura de subsistência, construir sua casinha que, logo vem estes fiscaizinhos do pseudo verde que não sabem diferenciar um guapuruvu de uma imbaúba para multá-los e até em alguns casos prendê-los, com isso o caiçara cada vez mais está sendo obrigado a abandonar suas terras e ir para o meio urbano onde vira mão de obra barata ou desempregado, acabando por ir morar em favelas, os filhos sem eira nem beira e só sofrimento, enquanto os funcionários do meio ambiente regiamente pagos, além de não deterem a verdadeira devastação de nosso meio ambiente ainda conseguem matar a cultura e o bom humor caiçara... E quem quiser que conte outra!!!Fim do texto.
· Drogas: de quem é a culpa?
    Roberto C. P. Júnior
    rcpj@sol.com.br
    Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final - Livro Eletrônico


É do drogado. A culpa é, fundamentalmente, do drogado. Sem ele não haveria plantações de cânhamo e coca, cultivo de papoula, laboratórios de refino de entorpecentes, narcotráfico, lavagem de dinheiro, cartéis criminosos.
É ele, o drogado, que financia todos esses empreendimentos com um empenho incompreensível e uma tenacidade inconcebível. É ele que cuida de eliminar de si qualquer resquício de dignidade humana, que desce às maiores profundezas que alguém pode chegar a conhecer, que destrói sua vida inteira em troca de alguns momentos de prazer.
Lúcifer não precisou fazer nenhum esforço especial para contabilizar como suas essas almas decadentes; elas mesmas vieram pressurosas ao seu encontro, ávidas em vender-se por algumas míseras sensações efêmeras.
Como se poderia, então, ajudar um viciado em drogas? Ajuda sempre é possível, pressuposto que ele queira ser ajudado, que se esforce em sair do charco nauseabundo que ele mesmo criou tão diligentemente, e onde mergulhou tão prazerosamente. Só depois de envidar esforços vigorosos para se livrar de sua imundície particular, é que ele pode ser considerado realmente uma pessoa com problemas, desajustada, carente, que necessita de verdadeiro auxílio e que merece tê-lo. Antes disso ele não passa de um ser desprezível, indigno do complemento "humano", uma criatura fraca ao extremo, um escravo voluntário, um verme que não se dá conta de sua repugnância, que rasteja no lixo imaginando flutuar nas nuvens, um tolo deslumbrado que se veste com lantejoulas convencido de ostentar ouro puro.
O viciado em drogas assemelha-se a um covarde que tenta fugir da vida atirando-se para dentro de um poço. A melhor ajuda que pode ser dada a alguém nessas condições - que desejou cair no poço - é lançar-lhe uma corda e encorajá-lo a subir por ela.
Descer até o fundo do poço e trazer de volta à superfície o candidato à suicida nos braços, não o liberta de suas tendências autodestrutivas. Se ele for levado para fora do poço sem vontade nem esforços próprios, seus membros permanecerão atrofiados. Continuará a cambalear pela vida, tateando miseravelmente, ofuscado pela luz do Sol que se lhe tornou estranha, todo sôfrego e trôpego em busca do poço mais próximo, para novamente se deixar empurrar de lá pela sua onipresente covardia. Seria isto auxílio verdadeiro?
O viciado em drogas deve ser encorajado, sim, a redirecionar sua vida, mas não com palavras melosas, apaziguadoras e hipócritas, que o impeçam de reconhecer o triste papel que desempenha. Palavras falsamente tranqüilizadoras são para o drogado um entorpecente ainda mais perigoso, pois embotam o que ainda resta nele de personalidade autônoma.
É evidente que o drogado deve ser submetido a um tratamento de desintoxicação do corpo, mas desde que se exija dele igualmente uma desintoxicação de sua alma, uma mudança radical de sua sintonização interior. Ele precisa entender, finalmente, que só cabe a ele passar uma borracha definitiva nesta página manchada do livro de sua vida.
Condescendência imprópria não restitui ao drogado sua perdida condição humana; esta, ele mesmo terá de reencontrar, já que foi ele quem se desfez dela. E não passa de um ato de falso amor, de caridade mecânica, procurar privá-lo do esforço próprio em melhorar interiormente, pois com isso se retira dele antecipadamente a merecida alegria de redescobrir e reconquistar a própria dignidade.
Somente o reconhecimento da própria falta é capaz de levar uma pessoa ainda boa a efetuar uma mudança drástica em seu modo de viver, para nunca mais tornar a errar. E é também este reconhecimento que a motiva a acumular em si as forças necessárias para isso; pressuposto, naturalmente, que ela ainda conserve uma pequena chama de caráter em seu íntimo.
O cultivo e o comércio de entorpecentes são um dos maiores flagelos da época atual. Contudo, procurar combater tráfico e traficantes sem levar em conta o consumidor, conservando-o protetoramente de lado, é como tentar erradicar uma erva daninha podando-a de tempos em tempos.
Estaríamos vivendo então uma situação realmente desanimadora, se os vendavais purificadores que ora cingem a Terra também não se encarregassem de arrancar com raiz e tudo essa erva daninha do tráfico e consumo de drogas, independentemente da vontade humana e de seus pífios esforços neste sentido. A erva daninha será efetivamente erradicada, de uma maneira ou de outra. Por isso, é mais do que hora de os viciados em drogas deixarem de adubá-la continuamente, se não quiserem ser ceifados conjuntamente.Fim do texto.
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