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Ano 1 - Nº 12 - Ubatuba, 13 de Setembro de 1998
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· Votar: que responsabilidade
    Roberto de Mamede Costa Leite
    mamede@iconet.com.br

À pergunta clássica de 'se lembramos para quem votamos nas ultimas eleições legislativas?', quase sempre teremos como resposta um ar meio aturdido, uma expressão quase que envergonhada.
Mas qual de nós não emite conceitos negativos, entremeados de calão, sempre que solicitado, e mesmo quando não, a falar sobre o Poder Legislativo que nos representa? É lugar comum nestas ocasiões a constatação da mediocridade e rapacidade das Câmaras e Assembléias que elegemos.
E que nós fazemos para tentar mudar a situação?
Na amplitude de nossa pessoa, nos determinamos a votar melhor ou não votar, anulando o voto.
No primeiro caso, sabe-se lá por que artes do demo, sempre elegemos uma Assembléia/Câmara pior que a anterior; quando escolhemos adequadamente nosso candidato... ele não é eleito.
Agora, se ele é eleito, com as exceções que confirmam as boas regras, conduzimos ao nirvana legislativo cada estrupício...
Na segunda hipótese, de não mais votarmos um nome, estaremos permitindo que um energúmeno consiga eleger o seu.
Explico: quando nos decidimos votar em branco, por protesto, há uma preliminar não escrita, mas subtendida, de que o fazemos porque somos conscientes e vemos a inutilidade de nossas escolhas, com a realidade tão ruim dos eleitos.
Anulamos nosso voto por protesto de uma cidadania indignada. Com este gesto, indicamos, na grande parte das vezes, que somos eleitores potencialmente cônscios de nossas responsabilidades e que, se exercêssemos nosso voto em um candidato, o faríamos de forma positiva.
Em conseqüência, perdemos uma indicação, provavelmente, boa deixando que valha uma talvez extraída dos currais manipulados.
Assim, por mais frustrante que seja nossa intenção de voto, exercido maduramente, com a triste realidade eleita, há que perseverarmos.
Quem sabe um dia consigamos, pelo exercício continuado da cidadania, pelo voto e pelo exemplo dele maduramente exercido, formar uma sociedade de cidadãos libertos dos currais eleitorais para uma cidadania atenta e exigente de seus representantes.
Recente fato, aqui em Ubatuba, me impressionou negativamente, pela oportunidade perdida: Diretor da Associação dos Aposentados, o Tenente Hércules, promoveu uma reunião com representantes de diversos partidos políticos, que lá foram para explicar, aos venerandos sócios, seus objetivos políticos.
Esta iniciativa, merecedora de todos os elogios, que deveria ser prestigiada com a presença de todos que dela soubessem, passou em brancas nuvens, sem a presença da grande maioria dos interessados.
Como diria o vetusto Eça: "É d'escachar".

Charge do Cliff - © www.serv2000.com.br/~cliff/

Corre, a boca pequena, que há pesquisa em Ubatuba, indicando 95% de rejeição a candidato aqui eleito. No caso, inclusive eu, votamos mal.
Para que não voltemos a ser iludidos tão grosseiramente, primeiro observemos onde erramos.
Depois, com o exercício do voto consciente e experimentado, até de forma tão negativa pelo erro, como no caso, não voltemos a conduzir eleitoralmente ao poder candidatos tão inadequados.
Nesta próxima eleição teremos, também, a escolha para cargos executivos em níveis federal e estadual.
Numa das esferas não me parece que ai haja qualquer dificuldade de escolher o melhor, disparado; na outra é fácil, também, eleger o menos pior.
E, mesmo no caso do menos pior, ele se qualifica negativamente, não por problemas de honestidade, mas de erros cometidos em áreas sensíveis da administração, como Educação e Segurança.
Em nosso mundo político onde, por falta de melhores perspectivas, se leva em consideração o 'rouba mas faz', o pecadilho de errar de boa fé mereceria, sem dúvida, uma segunda oportunidade.
Até porque uma cidadania atuante pode pedir/exigir uma modificação de conceitos administrativos.
Nesta área do voto majoritário, as opções eleitorais positivas não são difíceis de identificar.
Na área legislativa, ao contrário, entre os candidatos com 'chance' eleitoral, que sejam da região, a escolha fica muito apertada.
Creio que um indicativo que pode nos ajudar nesta ocasiões, para eliminarmos candidatos que não devem ser eleitos, é o bíblico do "Diga-me com quem andas, que te direi quem és..."
Pena que ainda não haja o voto distrital e o fim do voto obrigatório do analfabeto.
Encerro desejando a todos que votem o melhor possível, pois disto dependerá nosso futuro.
Para que não cometamos outros desatinos eleitorais,
Oremos Irmãos.Fim do texto.

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O CAMINHO DE SANTIAGO

· Plano Diretor: Agricultura x Meio Ambiente
    Farid Nassar Júnior
    farid@iconet.com.br

Desmatamento para o plantio
Por que será que somente agora estão retomando os trabalhos de elaboração do Plano Diretor do município? Por que será? Será que é porque o brasileiro só começa a nadar quando a água bate na bunda? Será que é porque o Gerenciamento Costeiro restringe o crescimento de Ubatuba, mesmo? Tenho minhas dúvidas. Ou será que estamos querendo o crescimento de Ubatuba da forma como está ocorrendo no bairro do Perequê-Mirim e no Pé da Serra, ou mesmo o que está acontecendo no Araribá, onde a agricultura está à míngua, perdendo espaço para loteamentos?
Na minha formação acadêmica, seria muita pretensão discutir sobre planejamento urbano. Mas nesta cidade, o crescimento urbano envolvido diretamente com o ambiente e a agricultura abre uma brecha para que eu possa opinar a respeito. O que pretendo discutir aqui é o município calcado sobre três pontos importantes: cidade-campo-floresta, mas, principalmente, os dois últimos. Para esclarecimento temos: a cidade como principal produção de renda, o turismo com seus empreendimentos na área da hotelaria, a construção civil, o comércio etc. Tudo aos trancos e barrancos.
O campo, entendido por sua atividade produtiva, incluindo-se aí a pesca, que é assunto para outro momento. O campo, que já teve grande importância, está atualmente mal se agüentando das pernas. A agricultura, potencial geradora de empregos, sem espaço, pressionada por todos os lados. A floresta, como a área que hoje possui a maior relevância, com a qual o município deve aprender a lidar e aproveitar das vantagens deste privilégio, e que é rejeitada como um filho bastardo.
Pois, então, alguma coisa está errada nesta cidade: é favelização dos habitantes, é diminuição de área agrícola e devastação em áreas impróprias - colocando em risco populações (bairro do Perequê-Mirim, por exemplo) e o abastecimento de água (Pé da Serra) etc.
Mas quero ater-me somente a discutir sobre a agricultura e o meio ambiente. A agricultura em Ubatuba sempre teve importância local para a subsistência do caiçara, principalmente nos anos 70, sendo também responsável por parcela importante no abastecimento do CEAGESP, em São Paulo, com produtos como o pimentão e o pepino, nos períodos de entressafras em outras regiões do Estado e, atualmente, descobriu que pode ser grande exportadora de gengibre. Isso é importante para o município? Existe discussão sobre a zona rural do município? Só sabendo onde poderá haver plantio é que saberemos onde haverá crescimento urbano e preservação.
A partir do dimensionamento da área agrícola é que poderá haver alternativas de produção em harmonia com o ambiente, poderá haver novos investimentos em plantios de culturas beneficiadas pelo clima de Ubatuba que se mostra propício, produzindo, assim, alternativas de emprego na agricultura familiar e/ou empresarial, através de manejos de vários produtos da floresta, plantios de espécies alternativas etc. Assim, o campo poderá oferecer produtos da terra que tem ligação com a história da cidade (o artesanato indígena ou não, a banana, a mandioca e, numa história mais recente, hortaliças, como o gengibre, pimentão etc.), contribuindo, desta forma, para um turismo diferenciado.
A floresta, por sua vez, será o grande atrativo que garantirá a vinda dos turista para Ubatuba, oferecendo-lhes a Mata Atlântica e todos seus ecossistemas complementares, com o uso racional destas riquezas ou com seu aproveitamento sem tirá-las do lugar. O que aqui tentei mostrar é a interligação necessária de todos os setores, sendo que há muito mais a se falar. A retomada do Plano Diretor vai lembrar disso? Espero que sim.Fim do texto.

· A travessia das galinhas
    Fátima Aparecida Carlos de Souza
    articulista@ubaweb.com

Uma tempestade violenta atrasou a saída dos pescadores para mais uma jornada no mar. Dentro do rancho de canoas, a conversa só era interrompida pelos fortes trovões, considerados como fúria da natureza. Bidico era o mais entusiasmado, narrava um caso intrigante, prendendo a atenção dos presentes:
- Por falar de roça de mandioca, não conheço até hoje ninguém que tenha tão boa mão para a plantação como o papai. Ele plantava mandioca, e olha que essa iguaria serve para tudo! - e continuava falando da serventia da farinha para se fazer o biju e outras coisas. Contava que para se obter uma boa safra tinha que se conhecer a lua boa para o plantio: - Senão, mingua tudo. Não vai para frente!
- Já a mamãe - continuava Bidico, sob os olhos atentos da platéia -, sempre cuidou de criação. Tinha um quintal com tudo que era espécie de ave. Numa ocasião, as galinhas começaram a sumir. Naquela época, ninguém roubava nada, pelo contrário, todo mundo tinha criação para dar e vender. E Bidico, então, contou que, ao fazer uma pescaria na ilha do Prumirim, seu pai reconhecera alguma das galinhas, as que tinham sumido, ciscando por lá - Papai ficou intrigado - dizia o Bidico -, como é que as galinhas tinham ido parar na ilha? Galinhas não sabem nadar!...
Dia após dia, as galinhas iam sumindo. Até as da vizinhança começaram a sumir. Logo veio o tempo do forneio. A mandioca estava no ponto de colheita. E foi aí que, para espanto do velho pai do Bidico, ao retirar um pé de mandioca na sua roça perto da praia, pode entender o sumiço das galinhas: uma raiz havia crescido tanto que atravessara o mar e fora dar na ilha. As galinhas, ciscando no quintal, encontraram a tal raiz e, bica aqui, bica ali, foram, aos pouquinhos, comendo... comendo... comendo e, imaginem só, acabaram por fazer um túnel ligando o quintal do pai do Bidico à ilha do Prumirim!Fim do texto.
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