De tanto ouvir as pessoas reclamarem dos buracos, resolvi reescrever sobre os buracos... Os buracos estão presentes em nossa vida e no dia-a-dia. Ao acordar a primeira coisa que fazemos é irmos até o buraco do vaso para fazermos as necessidades fisiológicas. Depois lavamos os buracos de nossa cara e a água se escoa pelo buraco, indo para um outro buraco ainda mais fundo. No buraco do ouvido enfiamos cotonetes e até o mindinho para resolver uma coceira. É feio, mas todo mundo enfia o dedo no buraco do nariz e em outros buracos também. No café, muita gente faz um buraco no pão tirando o miolo; faz um outro buraco na margarina, que passa no buraco do pão. O buraco do copo enchemos com leite e café que saem pelo buraco da cafeteira. Buracos há no queijo, no bolo de fubá e por dentro do mamão. Carlos Rizzo, recentemente, descobriu que a corruíra faz seu ninho no buraco na parede; o pica-pau faz seu buraco no pau seco, assim como o periquito e até o caxinguelê. Ainda comprovou que o tatu cava seu buraco mijando pra amolecer a terra. O guaruçá já faz seu buraco em terra mole, não precisar mijar. Mas o pior é colocar a mão do buraco da cumbuca; macaco curioso se ferra nesse buraco. Até o céu tem o seu buraco. Será que vamos para o buraco negro do céu, passando pelo buraco na camada de ozônio? Tenho certeza que primeiramente iremos para o buraco do caixão e depois depositados em buracos de sete palmos. Como diz meu amigo Eduardo Souza: "Desse buraco ninguém escapa, seja nego de buraco rico ou nego de buraco pobre!" O buraco é universal e agora está globalizado. Existem vários buracos onde os povos estão metidos: buracos de sangue e ódio, buracos de intolerâncias, buracos de revoltas, buracos de violência, buracos de má economia e de má administração, buracos de lama e corrupção, buracos, buracos e buracos; tem buraco enfiado dentro de buraco. Mas fazer o que se o povo gosta dos buracos! Disseram-me que Ubatuba está em segundo lugar no ranking dos buracos, perdendo apenas para a Lua. Não sei se na Estufa ainda tem o buraco apelidado de Piscinão do Ramos. No Perequê-Açú dizem ter buraco chegando no Japão. Se os buracos tivessem olhos, padre e mulher tinham que andar de calça comprida! Você já contou em quantos buracos passa por dia? Não? Tente contar! Leve em conta os buracos que estão virados para cima e os que estão virados para baixo. Eu explico! Os buracos que estão virados para baixo são aqueles que os empreiteiros da Sabesp cavaram por aí; já os buracos que estão virados para cima, são aqueles que os empreiteiros dos empreiteiros da Sabesp tamparam por aí, deixando aqueles caroços, fazendo de Ubatuba um verdadeiro paraíso para tatu e guaruçá nenhum botar defeito. Esses exemplos são de buracos existentes nas ruas asfaltadas. Cá pra nós: - Que asfaltinho sem vergonha, hein?! Temos também os buracos atravessados, aqueles da rua Guarani, verdadeiras trincheiras onde os carros baixos têm que passar em diagonal, roda por roda. Nas ruas sem pavimentações a coisa fica confusa, não sabemos se a rua esta cheia de buracos ou se é o buraco que está cheio de rua. Quem anda a pé não sente os buracos porque pula por cima ou desvia fazendo um ziguezague; a não ser quando a rua é escura, em que o sujeito anda reto metendo os pés nas poças d’água, xingando tudo quanto é mãe de político. Perigo é caminhar pelo calçadão da praia do Itaguá; basta abrir o buraco dos olhos para enxergar; ali estão verdadeiros buracos em que o sujeito pode cair e ter graves ferimentos. Será que ninguém reclama disso? Caramba! Eu acho que já tentaram reclamar, mas entraram pelo buraco do cano, ou reclamaram para quem ouviu por um buraco e deixou sair por outro buraco da orelha. O cidadão que anda de bicicleta, esse tá ferrado, vai viver com calo na bunda pro resto vida. Tenho dó do motorista de ônibus, esse coitado, vai se aposentar com bico de papagaio, espinhela caída e torcicolo crônico. Éééé! Estamos num buraco! Quem manda gostar de buracos? Será que nunca vamos sair do buraco? Quando depositamos nosso voto no buraco da urna, a esperança é de sairmos do buraco, mas acabamos entrando num outro buraco dentro do buraco. Sai um, entra outro e vemos que é tudo buraco da mesma urna ou buraco do mesmo saco. Sim! E por falar em saco, podemos considerar o saco como sendo um buraco mole e móvel. Tá ruim, mas tá bom! Não devemos reclamar, haja visto que um dia, saudoso de nossa terra, um poeta poetizou: "Minha terra tem as ruas / Onde vivem os buracos / Os buracos que aqui vivem / São buracos de minas e canhão". - Ééééé! O canhão também tem o seu buraco e esse é o grande buraco em que a humanidade está se enfiando por ignorância e intolerância... Tudo por culpa do buraco!!! Éééé! Poeta é poeta! E pensando bem, buraco por buraco é melhor ficarmos com o nosso buraco, quem sabe um dia o nosso buraco vire dos avessos e derrame a tão almejada prosperidade.
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