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COLUNISTA
Julinho Mendes
15/08/2022 - 06h22
A educação e a mendicância
 
 
Julinho Mendes 

Me considero um brincante, amante da arte, da cultura e principalmente do nosso Folclore; digo que não é de agora e nem de ontem e sim desde criança que vi de perto e, de forma espontânea, ingênua, alegre e contagiante, a Dança do Boi, a Dança da Fita, a Congada, Folia de Reis, Folia do Divino, os carnavais com blocos e mascarados acompanhados pelos bonecos Maria Angú e João Paulinho... Com João Teixeira Leite aprendi a pintura primitiva e a construção de bonecos para Malhação do Judas; apreciei com João Albado e Emílio Graciliano a construção de boi bumbá, com Ney Martins conheci o Samba de Enredo e a batucada de uma escola de samba e todo seu entusiasmo pelo folclore e pela cultura caiçara, enfim, hoje faço das minhas... Hoje, não substituindo Ney Martins, digo que sou referência, assim como são outros amigos atuantes como Mario Gato, Ostinho Garcês, Elvio Damasio, Bado Todão, os descendentes filhos e netos do saudoso Dito Fernandes do Puruba, pessoal do Prumirim e muitos outros que, de uma forma ou outra, prestam seus trabalhos em prol da manutenção dessa nossa cultura.

Chega agora o mês de Agosto, mês do folclore, onde, nós atuantes, conhecedores dessas manifestações, somos convidados a fazer alguma ação nas escolas do município e isso também não é de agora, sempre tem um aventurado professor a nos convidar, a fazer uma palestra ou uma apresentação desse nosso folclore em suas escolas. Muito bem! Nunca nos negamos a ir, sabemos dessas nossas responsabilidades em divulgar, resgatar, manter e até promover a continuidade dessa nossa cultura. Isso acontece de forma aleatória, voluntária, sem projeção de efetivação concreta de, por exemplo, isso estar incluído no currículo escolar; é a professorada amiga ou conhecida, que até por iniciativa própria, com consciência de levar a nossa cultura à classe estudantil, que nos convida para uma apresentação em suas escolas.

Todos os anos, no final das férias de julho, por várias administrações que passaram e a atuante, é organizado e realizado pela Secretaria de Educação do município, a tal “Semana da Educação”, com palestrantes, ganhando bem, vindo de fora, discursos, debates, slides, panfletos, papéis, mídia, enfim. Eu posso estar enganado, mas nunca soube que os professores, que nos pedem para irmos nas escolas mostrar nossa cultura, levaram a essa Semana da Educação, um comentário sequer de que, nós da cultura popular caiçara, merecemos ser valorizados monetariamente para custeio de gastos e tempo com tal presença na escola; eu nunca ouvi falar que dessa custosa Semana da Educação saiu um projeto para fomentar nas escolas a cultura caiçara, ou mesmo um projeto para incluir no currículo escolar a nossa cultura. Nem mesmo ouvi sair dessa tal Semana da Educação, organização para visitar e prestigiar o Mês da Cultura Popular no Projeto Tamar. Eu, Julinho Mendes e meu amigo Roger, criamos o Quintal Caiçara, onde fazemos o Papo Caiçara, que até em grupos menores de alunos podemos receber mostrar um pouquinho da nossa Cultura. Mas... nada de apoio e incentivo por parte da tal Educação para ajudar alavancar esse nosso, já iniciado projeto! Tá osso! E chega, principalmente agora, mês do folclore, vem os convites para, gratuitamente, falarmos sobre nossa cultura nas escolas, seja lá contando histórias, cantando, dançando, teatrando... Tá! Tudo bem! Vamos! Mas venham cá meus amigos professores, senhores diretores, senhores adjuntos da Educação, secretário da Educação, senhores vereadores, senhora prefeita, isso não está certo! O certo é vocês terem a consciência do valor de nossa cultura, executar e por em prática projetos pra mostrar a nossa história, nossa musicalidade e dança, nosso rico folclore; implementar a cultura caiçara no currículo escolar, enfim, isso é o certo. Mas cadê? É só blá, blá, blá, é muita reunião pra pouca ou nenhuma ação, foram muitas “semanas da educação” PARA NÃO SE ACABAR com a MENDICÂNCIA de querer de graça a presença dos conhecedores e artistas da cultura caiçara a se apresentarem nas escolas. É isso, e é feio! Com razão ou sem razão essa, que não é de agora, é a minha expressão! Querem que eu vá às escolas, eu vou. Vou levar meu balaio de causos, vou levar rabeca, machete, violão pra tocar e cantar o fandango caiçara, vou ensinar a dança da Fita, a Congada, vou ensinar os passos para se fazer uma Folia de Reis, vou “folclorear” com meu Boi de Conchas, vou com meu Dragão da Sununga, vou ensinar a pintura primitiva, vou fazer uma canoa, um remo, um balaio... tudo isso vou fazer, mas... sem mendicância!

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