Luiz Moura | |
No Carnaval do ano passado, depois de Dito Raé, Paulo Bambão, Miguel Ageo, Bimba e tantos outros, há mais de 35 anos, nós do grupo O Guaruçá criamos as marchinhas “Que bicho é esse?” e “O Guaruçá”. Brincamos na sexta, domingo e na terça-feira de Carnaval, quando encerramos, com sucesso, o nosso desfile. No coreto juntando-nos aos foliões que dançavam ao som da lira. Naquela ocasião conversei com Martiniano (presidente da Fundart – Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), para em 2006, criarmos um festival de marchinhas carnavalescas. Há pouco mais de um mês, Ney Martins como Assessor Cultural apresentou ao Conselho Deliberativo da Fundart o projeto do I Festival de Marchinhas para o Carnaval 2006. Estava sendo cumprida a promessa de Martiniano. Haveria tempo hábil ou não para a realização do Festival? Como forma de por em prática e de adquirir experiência, o Conselho Deliberativo foi unânime em aprovar o projeto. A partir daí sabíamos que o Festival ia acontecer, mas não sabíamos o seu resultado. Anunciado o Festival, duas equipes arregaçaram as mangas e puseram-se a trabalhar; de um lado a equipe executiva da Fundart, como organizadores do projeto e do outro lado os protagonistas, artistas, compositores, cantores e foliões que trabalhavam na composição de músicas, arranjos, fantasias e tudo para engrandecer e fazer a festa acontecer. E aconteceu! Após ensaios e dois dias de eliminatórias aconteceu em Ubatuba, no domingo, dia 19, a mais maravilhosa festa da música popular brasileira; marchinhas de Carnaval prenunciando o Carnaval que está para chegar. De Bruna Novaes Mendes de doze anos à dona Ophélia com seus oitenta e tantos anos, de marcha de rua à marcha de salão, de saudades a críticas, do terreiro caiçara ao deserto de Ali Babá, aconteceu de tudo nesse festival; o resultado foi um sucesso. Sucesso de interpretação, musicalidade, criatividade, alegria, brincadeira, paz e amor. Bastou o povo ser chamado para que a festa acontecesse. O Guaruçá como folclórico e alegórico que é, não pode deixar de participar desta festa popular e fez questão de colaborar; fizemos seis composições para abrilhantar a festa, todas elas encenadas com fantasias e alegorias diferentes. O Homem Bomba e a Cadê?, estavam entre as doze finalistas. Não sei se por ironia do destino ou por expressar o sentimento de um povo e mexer com a alma dos jurados a música Cadê? de Mariza Taguada do Grupo O Guaruçá explodiu como uma bomba, sendo a grande campeã. - Cadê o que? – Aquela amendoeira! Foi isso que, talvez, fez a diferença. A música Cadê? fez explodir o sentimento de um povo revoltado com a ação de um prefeito. A forma romântica e sutil com que a música tratou a questão da amendoeira retirada da praia do Cruzeiro fez tirar o nó da garganta de um povo que até agora pergunta: pra que? Reafirmamos que o Bloco O Guaruçá não sairá no Carnaval, mas não é nenhum charminho, como disse o Sr. Prefeito na rádio Costa Azul e sim para colocar na cabeça de nossos governantes, que Carnaval é coisa séria, traz divisas para a cidade, desenvolve a cultura, educa e deixa o povo feliz. Quanto aos blocos que aceitam, de última hora dinheiro oferecido pela prefeitura para disfarçar o carnaval, minha crítica é que também estão contribuindo com o fracasso que vem sendo nosso Carnaval nesses últimos dez anos. Não devem fazer isso e sim exigir um projeto antecipado em que todos (governo e povo) façam a festa para todos. Um exemplo disso está em São Luiz do Paraitinga, onde o povo entra com o bloco e o governo entra com a estrutura, resultando em um ganho para toda a cidade. Ubatuba está tendo mais uma chance; o I Festival de Marchinhas Carnavalescas abre porta para um novo atrativo turístico, desenvolvimento cultural e social, basta, por parte do poder público, investir só 50%, os outros 50% deixa por conta dos que estão entre a geração da Bruna Mendes e a de dona Ophélia, que a cidade vai ganhar muito com isso.
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