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COLUNISTA
Julinho Mendes
04/02/2006 - 19h10
A festa na cidade morta
 
 

Imaginem Ubatuba de 30, 40 anos atrás. Não sei precisar e não pretendo pesquisar o censo daquela época, mas vou chutar uma população de 15 mil habitantes. Acredito que desse total, 70% era de caiçaras.

Ubatuba de 30, 40, 50... anos atrás, tenho plena certeza que era uma cidade festiva, alegre, bonita. A cultura popular fazia-se presente de forma espontânea, alegre e cheia de vida. Cada um sabia o seu papel no momento de entrar em ação fosse na música, no folclore, no teatro, no carnaval, na religião; como folião ou como religioso. O xiba comia solto, as congadas, as folias, os reisados, as procissões, a devoção a São Pedro, São Gonçalo, São Benedito, as serestas, os blocos carnavalescos, a dança dos bois, os mascarados de carnaval, Maria Angu e João Paulino, os clubes de danças, a banda furiosa, os enfeites de ruas e, mais recentemente as escolas de samba, o batuque nos quiosques, os músicos nos barzinhos...

Cadê? Cadê tudo isso? Cadê o verdadeiro povo dessa cidade? Que desolação!

Por força da lei, da migração desordenada, da invasão, do dinheiro, do poder, da política mesquinha e de políticos malfadados... conseguiram aniquilar nossa cultura ubatubana. Hoje com quase 100 mil habitantes, não acontece nada de efetivo para um desenvolvimento turístico, cultural e social. O que essa migração trouxe de cultura para nossa terra? Nada! O que esses nossos políticos estão fazendo para preservar e conservar a cultura popular? Nada! Enquanto outras cidades se preocupam em fortalecer as suas raízes, aqui ocorre o contrário, num contexto geral de definhamento da cultura local e não percebendo que o barco dessa ignorância ruma com todo mundo junto, seja rico, seja pobre, preto ou branco, padre ou pastor, morador da favela ou das mansões.

Há vinte dias para acontecer a maior festa popular brasileira, Ubatuba está apagada, triste. Liga-se as rádios locais e não se houve um samba, uma marchinha de carnaval. Não se vê um enfeite de carnaval nas ruas. Se o violão e o cavaco tocar num quiosque vai preso. E por aí vai... Tá feio! Ainda me lembro quando meu tio BIP desenhava, confeccionava e pintava os enfeites de carnaval para a avenida Iperoig, eram pierrôs, arlequins, colombinas, reis, rainhas, sacis, piratas, pandeiros tamborins... A nossa avenida ficava viva e festiva para receber os foliões e recepcionar turistas e veranistas. E agora Super-homem? Cadê o Felipão? Cadê o Martiniano para alegrar esse pedacinho de chão? O Felipão eu não sei, mas o Marti tirou férias em plena temporada, vésperas de carnaval para viajar para Marte dentro da sonda espacial americana. Só pode ser, pois o presidente vive no mundo espacial!

Tá feio! O duro de tudo isso é ouvir dos amigos:

- Tá vendo, você votou no homem!

Aí eu repondo:

- Votei na esperança de acertar a mudança, pior é votar sabendo do erro a repetir! E ainda o cara me fala com grande sabedoria:

- É! Mas a mudança errada faz campanha para repetir o erro, aí você dança em oito anos!

O cara tem razão, esse filme já dura 30 anos e Ubatuba vai cada vez mais ficando morta em todos os seus aspectos.

A verdade é que em Ubatuba não se tem mais tempo para festejar, o tempo agora é para ganhar dinheiro. Conseguir dinheiro é o que vale! As praias viraram uma zona só, azul da COMTUR e da cobertura de alguns quiosques, com direito a camelódromo, churrasquinhos etc. A avenida Iperoig virou hambúrguer e coisas da 25 de março. Nos semáforos, por enquanto, o dinheiro sai do malabarismo. Nas baladas baila a perdição. Nas igrejas o dízimo é a salvação. Na política a bonança vem com a terceirização e o superfaturamento...

Eeeeeeta beleza! É uma festa!

Taí! Descobri agora que Ubatuba é uma cidade festeira! Viiiiiiva Ubatuba!

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