Semana passada, o Pena, amigo cultivado desde o século passado, telefona para me convidar a dar um giro por aí, para jogarmos conversa fora. Papo vai, papo vem, quando me dei conta, estávamos na estrada que leva ao cais do Porto, na Ponta Grossa. Perguntei-lhe, entre um solavanco e outro (infelizmente a suspensão do Fiat do amigo não estava adaptado para superfície lunar), o que é que iríamos fazer no cais. Disse-me simplesmente que fazia tempo que não ia lá. Achei boa a idéia – fazia uma eternidade que eu também não punha os pés lá. Ficamos nas proximidades do cais, na sombra, debaixo de uma árvore, lembrando os velhos tempos, admirando o quanto é bela a baía da nossa cidade – "Já imaginou se tudo isso aqui estivesse em algum país europeu?" Pontificou o amigo, questionando a nossa incapacidade cultural para administrar o belo, o sublime. A certa altura, quando a conversa começara a descambar para a crítica desconstrucionista da política local e estadual, resolvemos voltar. Na avenida Leovegildo, paramos num quiosque, na praia do Itaguá, para tomar uma cervejinha. Paisagem é bom, mas a seco? Tomei duas, três latinhas. Deu vontade de fazer xixi. Onde? No mar? De dia? Com platéia? Vambora! No meio do caminho, o amigo resolveu me levar a uma nova casa, perto da Barra da Lagoa, recentemente inaugurada, para que eu me aliviasse e para um chopinho, de saideira. Ele já havia me falado a respeito. Principalmente de haver no estabelecimento uma razoável livraria, da Nobel. Entramos. Percebi logo que, do quiosque que havíamos deixado para trás, saltáramos para o primeiro mundo. Ar condicionado, banheiros asseadíssimos, decoração requintada, mas sem extravagâncias, de ótimo bom gosto. Repousante. Som ambiente sereno, proveniente de excelentes vídeo clips em DVDs, veiculados continuamente num enorme monitor plasma, fixado na parede próxima ao bar. È sempre bom ouvir musicas que nos fazem descansar o aparelho auditivo do baticum e do berreiro a que somos submetidos no dia-a-dia. O chope?... Dez! Um bar temático? Bem, depois desse refrigério, viemos embora satisfeitos e combinando voltar qualquer dia com outros amigos. Ah, o nome da casa? Anchieta. Aprazível. Vale a pena conferir.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
|