Ubatuba hoje (10/1) acordou mais triste. Não, não é esta Ubatuba de agora, que é mais exílio do que pátria, de uma contemporaneidade incessante e angustiante, a que me refiro – falo da que vive no avesso desta, pelo lado de dentro de muitos ubatubenses. A Ubatuba que tem história e estórias, em que tudo era familiar, que era aprazível e sossegada, que era mãe e não madastra. Morreu um de seus filhos mais queridos, meu amigo e amigo de muita gente. Não, não se trata de um ubatubense que tenha se tornado notório pela política, pelas posses materiais, pela profissão ou por algum feito heróico ou dramático; mas tão somente de uma pessoa, alguém que ontem colocou um ponto final em sua história, em sua biografia. E nós, quando a lemos agora, concluímos – foi um homem bom. Será inesquecível. Alguém que irradiava bom humor, alegria, humilde, de boa família, bom filho, amigo de seus amigos, e estes não eram poucos. Diria que foi um sujeito que espelhava a alma da outra Ubatuba. Posso vê-lo agora, com suas pernas tortas, jogando futebol no campo do Perequê-Açú; tocando trombone, animando o carnaval no saudoso Risca-Faca; dando saltos ornamentais incríveis do alto da velha ponte de madeira sobre o rio Grande; dançando com maestria no "Da Pesada"; fazendo-nos rir com suas inigualáveis imitações de certos amigos ou parentes mais pitorescos, como o inesquecível Chico Alves da Pedreira; posso vê-lo na calçada de sua casa, numa noite de lua cheia, ao lado de seus pais, de seu irmão e de suas duas irmãs, formando um sexteto impagável – uma família de excelentes músicos! São muitos os momentos, os "causos", as peripécias que cada um de nós têm para contar deste grande ubatubense que nos deixou – Manoel Alves dos Santos, o Bidico. Ouvi alguém dizer, certa ocasião, que aquele que viesse a Ubatuba e não conhecesse o Bidico, não conhecia Ubatuba. Que Deus o receba, meu irmão. Fica uma certeza, a de que os dias no Céu, com sua presença, jamais cairão na rotina ou na chatice. Adeus.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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