Já que o ano está chegando ao fim, pensei em escrever algo de praxe, um balanço, do tipo os melhores e os piores de 2005. No sofá, televisão ligada, caneta e papel, pus-me a anotar. Fiz um traço vertical ao longo da página do caderno. Do lado esquerdo, a coluna das coisas ruins; do lado oposto, a do que aconteceu de bom. A da esquerda exigiu mais de uma página. Como estava no horário do Jornal Nacional Oficial, dei uma paradinha. De repente, as caras do Zé Dirceu. Uma reportagem sobre a vida virtuosa dessa eminência parda que tanto bem fez à pátria, que tanto lutou e sonhou para que se implantasse no Brasil o miraculoso e progressista regime cubano-soviético, abortado pelos militares em 1964. Foi o suficiente para que desistisse dos piores e passasse a me ocupar das coisas boas de 2005.

Escrevinha, risca, escrevinha, risca. Pouca coisa não riscada ficou. Dentre estas, Aline Rezende. A revista O Guaruçá está de parabéns! Aline estréia pra valer com "A Delícia da Estréia". Aládio, gramático corintiano, inverteria os termos da frase pra dar mais efeito poético. Diz, a nossa nova colunista, que pensou muito antes de pedir ao Luiz Moura para que colocasse a sua fotinha no meio dos escritores ubatubenses (menos, Aline! No que me diz respeito, apenas um escrevinhador) que ela tanto admira. Ai dele se não colocasse, Aline! Deus o livre e guarde! Seria imediatamente internado em algum mosteiro de monges trapistas nos Alpes suíços. Só acho que a fotinha da Aline não ficou lá muito bem enquadrada, no meio daquelas outras, feíssimas, as do Aládio e do Rizzo. Este com semblante e ares de pretor romano. Já no texto pós-estréia, da bem-vinda Aline, ela filosofa sobre um homem nu que viu no Perequê-Açú. Fui atraído pelo título da matéria, pensando se tratasse de algum petista em contrição, exercendo a máxima transparência, recentemente conspurcada pelos maiorais do partido. Não era. Mas gostei do poema em prosa ou da prosa poética.

Ah! o DVD do Credence Cleawater Revival que ganhei recentemente da patroa. É de... De fazer voltar no tempo, aos bons tempos da juventude, nos anos sessenta-setenta. As trilhas sonoras da rapaziada da minha geração. Who’ll stop de Rain, Proud Mary, Lodi, Fortunate Son, Born on the Bayou, Travelling Band etc. Nunca havia assistido a um show do Credence. Sem frescuras e momices, sem parafernália tecnológica: apenas duas guitarras, as de John e Tom Fogerty, o baixo de Stu Cook, e uma bateria supimpa nas mãos do Doug Clifford. A voz do John Fogerty é inigualável. Vi-me então no Da Pesada, onde pela primeira vez ouvi o Credence, em 1969. Vi-me também no Boliche, que ficava na avenida Iperoig, nos bailinhos de formatura de quarta-série, nas casas de amigos e amigas. Vi-me na companhia da turminha. Vi-me no Boliche, depois das aulas no Capitão Deolindo, na companhia do Luiz, editor chefe desta revista, do Clemente, do Pena, do Carlinhos, do Cláudio, do Gilmar, do Odair, do João Gil, do Renê, do Minoro, do Shiguê, do Gerson, e, principalmente, de algumas meninas inesquecíveis, encantadoras, cujos nomes, cavalheiro que sou, não mencionarei, e então, para não deixar a alma sorvendo a salmoura das mal disfarçadas lágrimas, bebemorei com algumas cervejinhas.

Outra coisa boa em 2005, o nascimento de meu netinho, o Luiz Henrique. E, para completar, acrescentei na lista a notícia alvissareira de que, aos caiçaras do Camburi, finalmente, será permitido saírem do século XVIII para a modernidade. Fiat lux.