Jurei que não iria mais falar de passarinhos ou de qualquer outro tipo de seres voláteis, com ou sem plumas. Mas não teve jeito. Santa curiosidade! Tinha de navegar pelas páginas da coluna do amigo Carlos Rizzo! Quando acessei a matéria Pirangueiro ubatubano, novamente o sobressalto. Deparei-me com a foto do Polyborus plancus, que ele chama de carcará, mas que na verdade não passa do vulgarmente conhecido gavião-pinto ou papa-pinto. Eis, na foto, o papa-pinto do Rizzo. Solitário, jururu, na areia da praia. Fazendo o quê?! Com mil petistas, maculosas e aviárias! Procurando comida na praia?! Só se for o guaruçá do Julinho. Fui ao Dicionário do Jean Chevalier e do Alain Gherbrant e descobri que o gavião é símbolo da usura, da rapacidade e designa com freqüência o pênis. Passado o espanto, diante da foto do infeliz, comecei a lucubrar, no bom sentido. Pousaram-me algumas dúvidas, algumas comparações. Seria mesmo um gavião? Quem sabe não seria uma gay-vota enfeitada para uma festa rave na praia? Talvez seja mesmo um gavião, mas daqueles do tipo pára-quedista, tão comuns em Ubatuba. Eles costumam surgir de repente no meio das gaivotas nativas para lhes deitar regras de conduta e alguns chegam mesmo a governá-las em seu habitat praiano. O gavião pára-quedista recebeu este nome devido à semelhança de comportamento que tem com certos imigrantes que caíram nesta cidade ao longo das últimas décadas. Estes foram e continuam sendo bem mais nocivos do que os pirangueiros, meu caro amigo Rizzo. E o pior é que ainda pagamos a alguns deles para que, com toda bazófia, nos digam que é nossa a culpa por tudo o que há de errado nesta terrinha. Um relincho ou um zurro deles sempre teve mais crédito do que mil projetos ou argumentos de alguns dos desprestigiados acadêmicos aborígines. Merecemos. Abrimos a porteira, liberamos a pista de pouso. O Rizzo diz também que tanto eu como o editor chefe desta ocypodea revista, em certa época, nesta cidade, não nos preocupávamos com o buraco de Ozônio. Rizzo, Rizzo, cada época com seus buracos! Desse tal buraco, naquela época, nunca ouvimos falar. E olha que buraco é o que não faltava naqueles bons tempos. Esse buraco do Ozônio é coisa de fresco.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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