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COLUNISTA
Eduardo Souza
16/11/2005 - 09h04
Biblioteca Pública Municipal
 
 

Dentre as coisas desta cidade a que sou grato, tenho a satisfação de mencionar sempre a nossa Biblioteca Municipal Atheneu Ubatubense. Criada através de decreto, pelo prefeito Ciccillo Matarazzo, e inaugurada em 28 de outubro de 1967, foi instalada numa das salas do prédio da Câmara Municipal. Lembro-me da satisfação em ajudar dona Geny Bueno, a primeira bibliotecária, e suas auxiliares, dona Georgina e dona Benedita Ifigênia, a guardar os livros nas poucas estantes que havia na pequena sala. Minha ficha de usuário era a de número 8, a do editor chefe desta revista a de número 5 e a de dona Idalina Graça a de número 4. Naquela época, os meios de obtermos conhecimentos e informações sobre o que acontecia além do Atlântico e da Serra do Mar limitavam-se à banca de revistas e jornais do Seu Felix, o rádio, o Cine Iperoig, o jornal local Tribuna de Ubatuba e os turistas que nos visitavam nas férias. A biblioteca caiu como uma luva nas nossas mãos adolescentes e prazenteiras. Começava então uma profunda transformação na vida da cidade. Os paulistanos haviam descoberto Ubatuba. Aos poucos, a troca de informações, a convivência harmoniosa com os turistas foi transformando a vida cultural da cidade, e, apesar do regime militar instalado no país, os anos sessenta e setenta ficaram marcados pela intensa atividade cultural e pela mudança dos costumes. A biblioteca foi para nós naqueles tempos um condimento indispensável nesse processo.

Voltando no tempo, o nome da nossa biblioteca pública foi dado em homenagem ao primeiro centro cultural do Município, o Gabinete de Leitura "Atheneu Ubatubense", fundado pelos paulistanos José Bernardo G. Duarte e Alfredo Augusto da Silveira, em 4 de julho de 1875. Nesse Gabinete de Leitura, que ficava na praça Exaltação à Santa Cruz, instalou-se a primeira biblioteca e a primeira escola pública de Ubatuba, além de uma tipografia. A biblioteca possuía um acervo composto de cinco mil livros, com empréstimo inicialmente permitido apenas aos associados que a mantinham. Foi estendida à população em geral com a fundação da primeira escola pública (com uma única sala de aula) pelo diretor presidente do Gabinete, o Dr. João Diogo Esteves da Silva, em 1º de outubro de 1881. O médico Esteves da Silva, carioca, nascido em 09/02/1848, ubatubense de coração, passou a residir em Ubatuba a partir de 1880. Foi vereador e deputado estadual, escreveu o livro "Ubatuba - Médica" e criou o primeiro jornal local, o "Echo Ubatubense".

Entre o final do século XIX e meados do século XX, muitas famílias caiçaras emigraram devido ao declínio econômico de Ubatuba. Ao término da década de 20 do século passado, muitas casas e sobrados foram abandonados, e dentre eles o Gabinete de Leitura. Em 1929, os livros da pequena biblioteca, já em estado de decomposição, foram para a fogueira. Em ruínas, o Gabinete de Leitura, em 1957, juntamente com outros edifícios, acabou sendo demolido para que a Praça Exaltação à Santa Cruz fosse ampliada, na gestão do prefeito José Alberto dos Santos. A primeira escola pública, com o apoio da Prefeitura e da comunidade, foi ampliada e instalada em uma casa, no dia 18 de julho de 1896, como "Grupo Escolar de Ubatuba". Anos depois, a escola recebeu o nome do seu fundador: Grupo Escolar "Dr. Esteves da Silva".

Chega de história, retornemos aos nossos dias. Estive na biblioteca recentemente e, conversando com os poucos e abnegados funcionários, fiquei sabendo que de janeiro deste ano até 31 de outubro p.p. houve 9.858 empréstimos de livros, e 19.800 pessoas fazendo pesquisas e consultas. Uma média diária de 60 pessoas, entre adultos, adolescentes e crianças, freqüentando a Atheneu Ubatubense! No entanto, é interessante observar, levando-se em conta a população de cada época, que o acervo do Gabinete de Leitura era praticamente o mesmo da biblioteca atual. Mesmo assim, acho que ainda há salvação para esta cidade, apesar do descrédito com que a cultura sempre é tratada. Ou estou equivocado?


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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