Nestes tempos de marasmo, de paralisia espiritual, de síndrome socialista, quando leio aqui n’O Guaruçá os textos do amigo Carlos Rizzo, sinto um deleitável refrigério na alma. Quem agüenta, depois de chegar em casa, cansado do serviço, ligar a TV e de repente topar com o presidente apedeuta dizendo que o partido "errou", que a economia vai de vento em popa, que o Brasil nunca esteve tão bem, com aquela carinha barbuda de serafim nordestino? Não dá. Corro para o computador, conecto-me à Internet, vou direto ao Guaruçá, ao amigo Rizzo. Leio o Visita ilustre, que narra o encontro do amigo com uma pomba rara! Quem me dera... Não sei como o Rizzo ainda consegue tempo para as pombas. E ainda por cima uma Columba picazuro! Confesso que nunca topei com uma dessas. Conheci, nos bons tempos, algumas pombas, não muitas, nem raras como essa que o Rizzo teve a sorte de se defrontar. Mas deram para me deleitar. Uma visita ilustre, uma visita rara a da Columba picazuro. Assim como essa pomba do Rizzo, outras espécies da nossa fauna estão desaparecendo. Na fauna política, por exemplo, é raríssimo encontrar a espécie "In facies dignitatis" ou a "In cara verecundia". Os pássaros mais ordinários hoje em dia são os "Petelhus corruptus", mais conhecidos por vira-bosta-do-planalto. Como o chupim, não constroem ninhos, usam os dos outros e se alimentam de "Herba dialectica marxisthropus", uma espécie venenosa de erva que, em seres humanos sadios, dá um desarranjo cerebral danado. Não conhecia esse lado do Rizzo. Quanto afeto pela fauna! E o tal do surucuá-da-barriga-dourada cuja foto vi estampada no texto Observar Ubatuba II? É, jamais serei um bird leader como o Rizzo. Não levo jeito. Mas há um passarinho que ele nunca viu, e o Luiz, nosso editor chefe, ficou louquinho para pegá-lo com as próprias mãos. Como não sou besta, evitei o desastre. Não é lá o tangará-dançador do Julinho Mendes, mas é jeitoso. Trata-se do "Minchollus erectus praianus". Se o Rizzo quiser, um dia eu mostro; mas nada de por a mão, certo?
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
|