Outro dia, passeando os olhos pelas margens de um trecho do rio Grande, fui surpreendido com o que vi. Apesar dos esgotos residenciais e de outros poluentes, esse rio sobrevive! Um casal de saracura a ciscar, algumas garças; um fornido guaiamu, indeciso entre sair e permanecer na toca, e um socó impassível, no galho de um arbusto, observando as águas, o que me fez deduzir que havia peixes nas imediações. A menos que aquele socó estivesse refletindo sobre a trairagem petista e a estratégia de poder - abortada? - de implantar o totalitarismo comunista no Brasil, estabelecida no Foro de São Paulo. Ao contrário do Brasil, ainda há esperança para o rio Grande de Ubatuba. O que dizer às gerações de socozinhos que vêm por aí? Cuidado com as águas turvas da retórica redentora das esquerdas e da direita! Por falar nisto, ainda existe direita no Brasil? Todo o coletivismo mata o espírito. Mas o que diria aos meus netos? Talvez diga, como Eric Voegelin, que "a santificação da vida individual não é o mesmo que a salvação filantrópica da humanidade. Cada homem tem de procurar por si mesmo o mais alto, e não compete ocupar o lugar da providência e acelerar o progresso pelo bem da humanidade; fazem-no as pessoas que não sabem aperfeiçoar-se e que pretendem que os outros provem os frutos da insipidez. As idéias filantrópicas sobre uma futura idade de ouro pouco adiantam; e a paz perpétua viria mais depressa e melhor se todos a trouxessem dentro de si".
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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