Caramba, já estamos em junho! Mês das tainhas, que, a esta altura, devem estar se aproximando de nossa costa, vindas lá do Sul. O inverno também se avizinha e com ele as festas juninas: São João, São Pedro e Santo Antônio. Nessas festas, mais do que em outras, bate-nos uma saudade imensa da infância, dos tempos da inocência. Palavra sem muito sentido nestes tempos de lulidades e paradas gays. As festas juninas atuais perderam a dimensão espiritual que tinham; talvez porque as cidades cresceram em demasia, entupiram-se de gente, perderam o sentido original de comunidade, deixaram-se permear pelo materialismo, pelo sensualismo e hedonismo da vida moderna. Nos velhos tempos, quando a maioria dos provincianos era católica, as cidades eram um todo orgânico em que o coração era a igreja matriz. As cidades nasceram e cresceram em torno de suas igrejas. A Igreja Católica é a grande responsável pela riqueza cultural deste País. Quando digo riqueza, não me refiro a uma cultura que proporciona comodidades da vida material. Essa é apenas uma cultura inferior. Na sua expressão plenamente humana, cultura implica bens de ordem mais elevada. Eventos comerciais ou de angariar fundos para instituições, é o que se tornaram as festas juninas. Como fazer festa de São João em nossas ruas como antigamente? Assar milho, mandioca e batata-doce em fogueiras erguidas no asfalto? Lembro-me de que as famílias se uniam para fazer a festa, de que confeccionavam as bandeirinhas, as flores de papel crepom; providenciavam o milho para assar, para o curau, para a pamonha e para a pipoca; faziam o delicioso bolo de fubá, o doce de mamão verde cristalizado e o de laranja da terra, o pé de moleque com gengibre, o quentão e o biju de tapioca. Os homens preparavam o leitão ensebado, o pau-de-sebo, o mastro para a bandeira do santo e a fogueira, bem no meio da rua. Tainha assada na brasa, enrolada em folha de bananeira! Pensar que as tainhas hoje custam sete reais o quilo! Lembro-me dos imensos cardumes que entravam na baía da cidade, de como brilhavam quando eram erguidos pelas ondas nas proximidades da praia. Eram pegos em redes de arrasto e amontoados na areia. Melhor do que assada, é a tainha seca e salgada que depois se reidrata e se cozinha com cará e batata. Ah, já ia me esquecendo dos rojões do seu Jango Teixeira (avô do compositor e cantor Renato Teixeira) que ele soltava no largo da matriz e dos busca-pés. Bons tempos aqueles! Mas o inverno está chegando para nos fazer refletir, para nos lembrar das coisas transitórias do mundo, das que permanecem para sempre e de que... estamos envelhecendo, irremediavelmente.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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