Julinho Mendes

Nessa época de campanha eleitoral, com todo respeito que tenho pela minha igreja católica, parece que os oratórios deram cria, pois o que começa a eclodir, por tudo quanto é canto e recanto da cidade, são os “imaculados” santinhos. Santinho de tudo quanto é tipo e gosto: gordo, magro, alto, baixo, barbudo, cabeludo, careca, uns com rabinho de cavalo, outros com bigode, santinho bravo, santinho manso, santinho fofoqueiro, santinho mentiroso, santinho analfabeto, santinho de gravata, santinho doutor, santinho basqueteiro, judoqueiro, futeboleiro... santinho militar tem com patente que vai de cabo raso até capitão. Santinho aluno e santinho professor agora desfalcam as escolas...

O gozado são os nomes dos santinhos: tem santinho com nome de pássaro aquático, felino doméstico (miauuu!), réptil e até santinho com nome de órgão genital (considerado no nordeste).

A democracia é tão grande que até pastor vira santo, aliás, é a única época que se vê “santinhos” dentro de igrejas evangélicas. Cuidado! Tem santinho lobo, vestido de carneirinho. Santinho do pau oco e santinho cara de pau, nesta época, antes de sair de casa, eles se benzem com óleo de peroba. E por falar no dito cujo, se nesta eleição tiver o exame antidoping, verificaremos que muitos santinhos são usuários de viagra. E se o juiz eleitoral determinar que seja preciso fazer o teste do bafômetro? Vai ter santinho cachaceiro bebendo ki-suco durante três meses.

Santinho safenado conheço uns oito, mas santinho surtado só existe um. Tem santinho de peixaria, santinho de feira livre, santinho de buteco... e será que existe santinho de porta de bordel? Aí não sei, mas sei que tem santinho de zona azul. Cruz credo!

Caro irmão, se você está no bico do corvo e tem pretensões de morrer, a melhor época é agora, você não precisará chegar ao céu para ver santinhos, pois o seu velório estará repleto de santinhos, o único perigo será em seu sepultamento, caso um santinho desses resolver enterrar uma vela em seu buraco, aí, mesmo morto, você vai ver estrelas. É de muita pesquisa pelo Vaticano, depois de morto, padre virar santo, mas nessa época eleitoral a canonização de padre vivo é coisa descomunal.

Um fenômeno extremamente interessante também nessa época de eleição é o aparecimento de santinho japonês, esse tipo é igual cabeça de bacalhau, coisa rara, mas em Ubatuba, por exemplo, tem uns três e, sem dúvida alguma que, se o papa Bento XVI souber que em Ubatuba existe santinho japonês, com certeza vai transferir seu título de eleitor para nossa comarca, com isso pode acontecer aqui uma beatificação de santinho japonês; será único no mundo.

Ahahah... Saravá! Pai de santo, nessa época, nem precisa tocar atabaque e fumar cachimbo para receber o santo, basta ficar andando pelo calçadão da cidade que santinho não lhe faltará. Por falar nisso, tem mãe de santo viúva, louca para receber santinhos bem dotados. Ai! Ui, também quero!

Ah! Sabe aquele casal do paraíso que andou comendo o fruto proibido? Pois é, aqui na cidadezinha eles também são santinhos. E por falar em evaeadão, já pensou se santinho gay ganha o cargo de vereador, a Casa de Leis vai ficar bem arejada! E tem santinho gay com a seguinte propaganda eleitoral: “Antes de votar, venha no meu co-mi-tê!” Ai! Ui!

Não será novidade, nessa euforia eleitoral, aparecer santinha grávida; já pensou, santinha grávida?! E como não poderia deixar de aparecer, nessa terra onde viveram os tupinambás, é santinho índio. Santinho índio, temos também e em seu apito o som faz bi-bi. O que me assusta e me deixa arrepiado, são os santinhos fantasmas. Pensa que não tem? Sim, existe! Esse atua na capital, mas está no meio de nós, tem cara de super-herói e é o protetor dos tijolinhos.

O paradoxo maior será a hora que começar chegar ao inferno os tais santinhos; terei dó do diabo. Coitado do diabo! O inferno vai virar um inverno, literalmente! Faltará educação de qualidade, faltará leitos, equipamentos e remédios nos hospitais; a segurança será um caos, vão permitir celular nos presídios e queima de ônibus públicos nas ruas do inferno. A corrupção será tão grande no inferno que até a constituição local será mexida, tudo pra favorecer a colônia de santinhos. É diabo, se prepare porque os santinhos chegarão aí! Mas não só de mazelas será o inferno! Não! Em vésperas de eleições as ruas do inferno serão asfaltadas, as praças ajardinadas e floridas, sinalização de trânsito avivada... tudo feito às garné para encher os olhos da diabada local.

E pra finalizar essa epopeia “eclesiástica”, vai aqui o ditado popular: “É dando que se recebe, e muuuuuuito!” Fiquei sabendo que teve santinho que deu uma churrascada a seus devotos; um dos devotos chegou dizendo que empanturrou-se de tanto comer churrasco de carne de boi abençoado e que, com certeza, seu voto já tem destino certo. É! Pois é! E como dizia o saudoso sambista carioca Bezerra da Silva, em seu samba: “Malandro é malandro, Mané é Mané, pode crê que é!”

É minha gente! A temporada de santinhos está aberta, antes de votar analise bem os milagres que seus santinhos vêm fazendo ou poderão fazer; seu voto é sagrado e tem o poder de mudar.

Salmo dos santinhos desesperados que ainda não conseguiram a canonização: “Mudar pra renovar e não viciar, é preciso!”.