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Moradoras da avenida Leovigildo Dias Vieira, estão ali desde quando foram plantadas, isso já faz mais de quarenta anos. Ali cresceram ao sabor da maresia, assistindo as puxadas de rede do Aládio e outros pescadores, nos crepúsculos do sol, observando a exuberante beleza de nossa baía Atlântica. Mas também comeram muita poeira na cara, ouviram muito buzinaço e motores embravecidos. Com todos esses tipos de poluição oferecidos pelos homens, as generosas amendoeiras sempre retribuíram com amor, oferecendo aos transeuntes e estacionários a mais saborosa e refrescante sombra. O que sempre lhes punham medo era o mar, pois há muito tempo observavam o avanço do mar. Tinham em suas frentes uma mureta de pedra (muro de arrimo), construído onde outrora fora o jundu. Não confiavam nessa mureta, pois sabiam da força do mar e, mais dia, menos dia, o mar lhes cobraria o lugar. E assim aconteceu... Na ressaca de agosto de 2004, lá se foi a mureta de pedra arrancada pelo mar; aí a coisa ficou feia para as duas irmãs que começaram a conversar: - E agora mana Adelaide? / - Agora estamos é ferradas, mana Jurema! / - Mas o Paulinho não vai nos ajudar? / - Se ajudar só no ano que vem e se ganhar as eleições! / - Ah é, então estamos mortas?! / - É mana, se dependermos da política para arrumar esse pedacinho de mureta aqui, vamos beber água salgada até morrer de sede! / - E se a turma do resgate do Dudu ganhar as eleições, não estaremos salvas? / - É, quem sabe né, são políticos também e prá político construir um pedacinho de muro, leva mais de ano. / - Então ta feio! / - Vamos pedir ajuda aos Florestais? / - Não sei não, acho melhor aos Ambientais! / - Será? E os ecologistas? / - Também não sei, acho melhor então falarmos com os quiosqueiros e restaurantes vizinhos. / - É, boa idéia. Esse pessoal ganha bastante dinheiro na temporada e para eles reconstruírem esse pedacinho de mureta aí, é rapidinho. / - É isso mesmo vamos lá! E a conversa entre as manas amendoeiras continuou durante os cinco meses finais da administração do Paulinho e já vai mais cinco meses da administração do Dudu. Dez meses que duas amendoeiras esperam a administração municipal reconstruir um pedacinho de dez metros de muro de arrimo na orla da praia do Itaguá. Nem administração, nem ecologistas, ambientais, florestais, quiosqueiros e donos de restaurantes tomam providência para salvarem as manas amendoeiras, que agora com as últimas chuvas estão se debruçando para morrerem ao mar. Será que com 10 sacos de cimento, 5m³ de areia, dois pedreiros trabalhando, em 15 dias não reconstruiriam aquele pedacinho de mureta? Que seja o dobro ou o triplo disso; não valeria a pena para salvar a vida das manas amendoeiras? Um amigo também indignado, nervoso falou: - É Julinho, a praga de Cunhambebe sempre impregna a coragem de quem aqui pensa em administrar! Com vergonha e não querendo acreditar no que o amigo falou, retruquei: - Calma que o resgate vem aí! Se não vier a cavalo, vem a passinho de caramujo africano, pois o bicho ta na moda.
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