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COLUNISTA
Elcio Machado
10/11/2014 - 08h02
Chegou a Ubatuba mais um chato, o Emboaba
 
 

Responde pelo nome de Antero Emboaba o mais novo chato de Ubatuba. Chegou há pouco de fora e já está causando. Aqui, nas páginas da nossa revista eletrônica, O Guaruçá, como explicitou em sua primeira postagem. “Um amigo deu o endereço de O Guaruçá como espaço que poderia acolher o meu recado”, escreveu. 

Emboaba, todos sabem, é palavra de origem tupi, a língua geral. M´boaba, ou algo parecido, era como os indígenas designavam as aves que tinham penas ou penugens nas canelas e, mesmo, nos pés. Tivemos aqui, no pé do Funhanhado, onde ultimamente têm voado penas, algumas galinhas (que botavam ovos azuis) e um galo com esse perfil. Ora, os portugueses usavam botas de couro cru, com pelos, que os indígenas logo associaram às pernas emplumadas das aves.

De alguma forma, os bandeirantes paulistas se apropriaram do vocábulo e passaram a designar de emboabas (cabe a forma plural, pois não se trata de nenhum povo indígena) os forasteiros portugueses e nordestinos que com eles passaram a disputar as regiões auríferas de Minas Gerais. Virou guerra, a Guerra dos Emboabas, na qual os paulistas levaram uma coça, em 1708, e contabilizaram mais de 300 assassinados no Capão da Traição (entre as hoje cidades de São João Del-Rei, Tiradentes e Coronel Xavier Chaves), perto do rio das Mortes, quando já tinham se rendido. A Coroa Portuguesa tratou de intervir e regulamentou na região a exploração do ouro, de olho no farto imposto que poderia cobrar, o famoso quinto, não importava de quem. Os emboabas ficaram com a província aurífera de Minas Gerais e os bandeirantes foram para Goiás e Mato Grosso, onde também lavraram ouro.

De qualquer forma, os bandeirantes paulistas se apropriaram do vocábulo sem perceber que eles próprios eram emboabas (forasteiros) nas terras indígenas.

Aqui, em Ubatuba, temos caiçaras e emboabas e caraíbas, sejam os que nasceram aqui, os turistas, os migrantes, os aposentados, os aventureiros, os paraquedistas, os moradores de rua. Afinal, dizem “os donos do pudê”, Ubatuba é acolhedora por natureza. Alguns que aqui chegam (ou já moram, ou nasceram aqui) querem levar vantagem, no tradicional jeitinho brasileiro. Outros querem contribuir, no mínimo com sua criteriosa opinião, para melhorar a geleia geral em que Ubatuba se transformou. Os primeiros fazem questão de confundir o público com o privado, tentando (e muitas vezes conseguindo) se apropriar privadamente do que é público. Os outros, em geral, são chamados de chatos.

Seja, portanto, Emboaba Antero, bem-vindo à revista O Guaruçá, onde têm voz e expressão os chatos, mas também, de vez em quando, quando querem, ainda que meio envergonhados, os primeiros acima referidos. Trata-se de um espaço aberto, no qual o editor é de direita mas acolhe opiniões de centro e de esquerda. Um espaço democrático, enfim.

Uma observação

Emboaba, no sentido (de forasteiro) que deram à palavra os bandeirantes, não é a mesma coisa que caraíba, que era como os povos falantes da língua geral tupi-guarani se referiam não apenas aos europeus em geral, mas também aos indígenas falantes da língua gê, em remota referência ao grupo indígena caraíba, ou caribes, cuja ocupação territorial tinha início nas ilhas do Mar do Caribe e se estendeu para o sul do continente. Emboaba, assim, seria espécie de que caraíba seria gênero.


Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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