(Declarações fictícias de Neymar a jornalistas, por E.M.)
Logo de cara quero pedir desculpas por não responder, sei que vocês estão loucos para fazer perguntas. Quero falar, só falar, desabafar, meio irritado que estou, por causa dessa dor muito forte nas costas, apesar do monte de remédios que me fazem tomar. Vi diversas vezes as cenas gravadas, vi o Zúñiga quando meteu o joelho na minha coluna. Vi na câmera lenta. Não foi um acidente, um acaso, nem a tal da simples imprudência, o maior motivo das faltas que todos nós cometemos em campo. Foi maldade, mesmo que ele jamais admita. A verdade é que não sou inocente, sabia que iria ser caçado em campo, como realmente fui. Sou obrigado a reconhecer que faz parte do jogo hoje jogado lá na Europa e aqui. Também dou minhas porradas, faço minhas cenas, mas todo mundo sabe que sou meio moleque, com aquela dose pequena de maldade da molecada. Só isso. Mas incapaz de agredir e machucar de propósito qualquer colega de profissão. Sou um profissional, aliás bem pago, não é mesmo? Só não esperava ser agredido pelas costas, na covardia, quando na minha frente só tinha a bola, para matar no peito. Quando fiz isso estufei o peito e minha coluna ficou na posição mais vulnerável. O Zúñiga não veio com a mão nem com a barriga, veio com o joelho e deu o golpe. É só olhar a imagem em câmera lenta. Fico espantado de vocês não falarem disso, da maldade, da vontade de agredir, de tirar do jogo, de tirar da copa, de tirar do futebol. Alguns até comentaram, mas livrando a cara de quem organiza tudo isso. Tem dinheiro na jogada, né? A emissora “oficial” (fez o gesto das aspas) não quer brigar com o organizador. Sempre tem essa coisa da grana, e pra mim também. Sei disso, mas minha vontade era de perguntar pra polícia por que não abriu inquérito, por que não prendeu, já que foi crime. Até falei de fazer a denúncia na polícia, mas é claro que eu mesmo não posso, tem toda essa coisa da grana, até para mim. Mas e o meu contrato lá na Europa? E se essa merda me deixar meio inválido pra jogar lá? Bom, pra terminar, pra mim fica claro que essa arbitragem deixou isso tudo acontecer. Desde o primeiro jogo fui caçado em campo, enquanto aqueles três deixavam rolar. Esse espanhol cego não viu, deixou o jogo rolar, não tinha cartão vermelho no bolso e nem ficou de cara vermelha, porque só vergonha na cara deixa a cara vermelha. Acho melhor parar por aqui. “Fair play padrão do organizador do Mundial”: eu, E.M., usando a boca de Neymar nesta ficção, e inspirado em Dias Gomes, pela voz de Paulo Gracindo, interpretando Odorico Paraguaçu, “e se não disse, deveria ter dito”. (Dias Gomes, remotamente inspirado em Vianinha)
Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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