Julinho Mendes | |
E em certa cidadezinha o prefeito fala... E fala o prefeito: – Caramba! Lá vem o Julinho de novo apontando mais uma coisa feia na cidade, e o pior é que ele tem razão. Melhor, mas é pior no sentido de que eu pago um monte de secretários, um monte de assessores e um monte de cabideiros, tenho a maioria dos vereadores e seus respectivos assessores a meu lado e essa turma toda, ganhando um dinheirão, não me ajuda a enxergar as coisas feias da cidade, só vai enxergar e arrumar depois que o Julinho publica nas redes sociais e mídias da cidade! E o prefeito fala: – Olhem essa imagem! Realmente o Julinho tem razão, parece uma lápide de túmulo de cemitério em plena av. Iperoig, lugar de intenso movimento turístico e de locais, diante de uma orla de praia maravilhosa e o pior de tudo, é coisa deixada pelo “çuper Dudu dos tijolinhos”. Como é que pode uma coisa feia dessa, ainda permanecer aí? E fala o prefeito: – Minha esperança está nas mãos do meu vice, que agora será o meu secretário de Turismo. Vamos ver se ele vai acabar com esse cemitério nos “jardins” da av. Iperoig; se bem que isso também poderia ser resolvido pelo meu secretário de Obras, ou pelo presidente da companhia de turismo, pela presidente da fundação e por tantos outros! E o prefeito fala: – Ah, tive uma ideia: Desses novos trinta e tantos cargos que criei e que foram aprovados pelos meus vereadores e que vão gerar 1 milhão a mais de gasto nas contas da prefeitura, vou dar a incumbência para um desses, ficar andando de bicicleta pela cidade e anotando tudo que estiver feio (sem pintura, estragado, faltando...) para em seguida mandar arrumar, assim o Julinho não enche mais o saco, ou então eu pago um salário para o Julinho para ele continuar prestando esse serviço. Que boa ideia eu tive! E fala o prefeito: – Mas espere aí! O Julinho tem um grupo cultural, o “cantamar”, que canta a cultura caiçara, fala do pescador, dos peixes, das lendas, dos personagens da cidade, dos santos de devoção das capelas das comunidades, dos elementos folclóricos, eles cantam a cultura caiçara com trajes típicos, adereços e alegorias, e não estão na programação da festa de Santo Pedro Pescador? Isso é um absurdo! Um grupo desse, que há anos dedica-se ao estudo, à composição, à divulgação e valorização da cultura caiçara de nossa cidade... não está incluso na principal festa da cidade? Caramba, tem coisa errada nisso! Santo de casa tem que fazer milagres, sim! E o prefeito fala: – É minha gente, estou com dó de mim mesmo! Estou mal assessorado! Mas acho que também tenho culpa, pois se eu de vez em quando metesse o pé no traseiro de alguns, a casa estava em ordem! E fala o prefeito: – Caramba! Eu me formei para deixar a cara das pessoas com um belo sorriso, então preciso fazer com que a cara de minha cidade também fique bonita e que tenha um belo sorriso ao receber turistas e também para se apresentar para os munícipes votantes. E o prefeito fala: – O Geraldinho deixou na cidade R$ 5 milhões, não é pouco não! Vou pegar esse dinheiro e vou mandar tirar essas lápides de túmulos deixada pelo “çuper Dudu”, vou colocar novas, bonitas e resistentes lixeiras, vou arrumar o parquinho da criançadinha, vou colocar novos e confortáveis bancos de jardim na orla, vou mandar arrumar as pedrinhas portuguesas que estão faltando no calçamento, vou colocar a mãozinha e a varinha no padre Anchieta, vou revitalizar o farol que está em bagaço, vou colocar uma placa informativa na praia de Iperoig informando o significado da tal palavra indígena, o casarão também precisa de uma placa nova informando a história e importância daquele prédio, vou mandar a mendigada para um local onde eles possam receber cuidados... Será que esse dinheiro vai dar? Se não der eu vou pedir mais pro Geraldinho, porque esperar da Dilminha tá demorando muito! E fala o prefeito: – Com o dinheiro do Geraldinho vou arrumar tudo na orla da praia e deixar o centro histórico e comercial da cidade, um brinco; aí vou deixar o Julinho descansar. Se bem que eu acho que o Julinho tá querendo aparecer, fica se importando com coisas pequenas, enquanto estamos contribuindo com o processo pão e circo do país! E o prefeito fala: – Chega de falar por hoje, já falei demais e espero que ninguém tenha me ouvido, pois se já cortaram o “cantamar” do Julinho, da Festa, poderão me cortar também!
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