Crustáceo decápode, braquiúro, ocipodídeo (Ocypode albicans), distribuído no oceano Atlântico, desde Nova Jérsei (E.U.A.) até o Rio de Janeiro, o guaruçá, além desse parentesco yankee, caracteriza-se por viver naquela faixa de terreno em que não se sabe ao certo se é nela que termina o mar e começa a terra ou se é o contrário. Poder-se-ia até dizer que é um animalzinho democrático que, confucianamente, segue o caminho do meio, o da prudência, um político de centro. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Como o caiçara, é o típico habitante das praias. Distingue-se também pela facilidade de locomoção para frente, para trás, para os lados e de estar sempre antenado, de olhinhos estendidos para o alto, perscrutadores. Não foi à toa que batizamos a nossa revista, que está comemorando um ano de existência, com o nome desse simpático bichinho. A Internet, a praia da revista, tem de valioso a possibilidade do exercício absoluto da liberdade, da individualidade e da diversidade, ao contrário das outras mídias, engessadas na ideologia marxista, na unanimidade, na camisa de força do politicamente correto. Quanto mais pluralistas, quanto mais singulares os sites, mais universal a Internet se torna. É a globalização sem a perda das individualidades e particularidades. A Internet está sendo também, para quem não terceiriza o pensamento, o que foi a imprensa alternativa, underground, dos tempos da censura do regime militar. Mas, hoje, a atrelagem ideológica talvez seja muito mais eficaz do que foi outrora a censura. A Internet, a propósito desse espaço permitido à diversidade e à peculiaridade, tem proporcionado a consolidação do que se chama comunidade lusófona. O português falado em alguns cantos do planeta, correndo o risco de ser absorvido por línguas poderosas como o inglês, tem hoje um novo alento. E podemos, assim, acessar homepages de, por exemplo, poetas ou escritores lá dos países africanos de língua portuguesa e inteirarmo-nos, com um simples clique, das nossas diferenças e das nossas identidades. Algo impensável há algumas décadas. Nessa multiplicidade, O Guaruçá é a expressão, utilizando-se desta última flor do Lácio inculta e bela, do que vai na alma de seus articulistas, habitantes desta cidadezinha praiana, berço de caiçaras, descendentes da miscigenação de portugueses e índios. Os que são nascidos aqui, agem às vezes guaruçaneamente, andando para trás, mergulhando no passado para entender melhor o presente e entrever alguma coisa do futuro. Não é que sejamos passadistas, mas sem o entendimento do passado, de nossas raízes fincadas nestas praias do litoral paulista, somos como o nenúfar, na superfície das águas, desgarrados, ao capricho dos ventos ou das correntes repentinas. Parabéns à aniversariante!
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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