Ubatuba, 21/12/2012 (Dia do fim do mundo)
Julinho Mendes | |
Pra quem não sabe o que é um jangolengo, eu digo que o jangolengo é o tié-sangue do mar. Peixe de vermelho intenso tal qual o vermelho do tié. Vivem em cardumes nos parcéis, costeiras de ilhas e lajes de mar. Chega atingir 30 cm de comprimento. O bicho é esfomeado por natureza e para pescá-lo não se faz muito esforço, basta um anzol com uma imitação de isca (isopor, elástico, plástico) ou mesmo uma isca artificial tipo garatéia, jogar ao mar e fazer a curricada. Quantos anzóis tiverem, quantos serão os peixes fisgados; enche-se um balaio em poucos minutos. Alguns pescadores, mais fantasiosos do que pescadores, propriamente dito, inventaram um torneio de pesca: “Pesca ao jangolengo”. Quem pescasse mais, em meia hora, ganhava um troféu e não pagava a cerveja e nem a churrascada. Local marcado do torneio: Lage Grande da baía de Ubatumirim, águas do mar de Ubatuba, aconteceu o primeiro torneio de pesca ao jangolengo. Pescadores a postos deram início ao torneio. Dentre os grandes pescadores de currico estava o primo Jaür Carpinetti que, com toda sua logística e estrutura pesqueira, era o favorito. Com seu molinete e vara de fibra de carbono, isca artificial alemã e linha de fibra óptica, iniciou sua pescaria. Joga pra cá, joga pra lá, currica à bombordo, à estibordo... e nada. Já se passavam 15 minutos e enquanto os adversários enchiam o balaio com jangolengos, Jaür Capinetti só dava banho nas iscas. E o tempo ia passando. Trocava isca artificial por isca natural, colocava chumbada pra tentar pescar de fundo e nada... O que estava acontecendo? Nunca foi de perder uma pescaria! Notou então que suas mãos estavam com cheiro de certo perfume; lembrou que ao sair de casa se lambuzou com repelente contra borrachudo; foi a conta, o cheiro do produto repelia também os jangolengos. Fazer o que naquelas alturas do campeonato? Enquanto os adversários já contavam com mais de trezentos jagolengos pescados, o primo Jaür estava zerado e seria ele a pagar a cachaçada para os demais competidores. Restava uma saída para não ficar pagão e com a lanterna na mão. Limpou bem as mãos, passou a mão no saco, tirando uma salsicha do pão, iscou num anzolão e jogou ao mar de fundo. Pensou: perdido por perdido pelo menos tentaria, com a isca de salsicha, ferrar um garopão pra fazer um pirão com banana verde; e assim fez. Faltavam poucos minutos para terminar o torneio. A isca mal chegou ao fundo, o bicho pegou em sua linha. - Minha Nossa Senhora! - Gritou bem alto e falou aos adversários. - Se não for a poita de meu barco é um peixe muito grande! E puxa daqui, puxa dali, geme, peida... até que o peixe aparece na flor d’água. Era um jangolengão do tamanho do capô de um fusca vermelho, de no mínimo cento e cinquenta quilos. Com a ajuda dos pescadores colocaram o peixão pra dentro de seu barco (a lancha Princesa). Momentaneamente, embora ter pescado o maior peixe, tinha pego apenas um e seria ele quem pagaria a bebedeira. Mas a surpresa apareceu no caminho de volta da pescaria. Com o balanço do mar e o tranco do barco nas marolas, o jangolengão começou a ter enjoo e passou a vomitar. O vômito do jangolengão era só jangolengos de tamanho natural. Foram contados 958 jangolengos que saiu da barriga do grandão. De lanterna, Jaür Carpinetti passou a ser o grande campeão do torneio “Pesca ao Jangolengo” e quem pagou a conta da cervejada foi o Guelinho da bicicletaria. Taí o troféu e o Paulo Ramos para confirmar a história.
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