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COLUNISTA
Julinho Mendes
06/11/2012 - 07h01
Administração versus corrupção
 
 
Julinho Mendes 

Numa conversa entre amigos, falando de política e ainda sobre os resultados da nossa eleição, o blablablá correu solto; num momento, eu falei que não é fácil administrar uma cidade, ainda mais uma cidade como Ubatuba que tem uma extensão de mais de 80 km de costa e com muitos bairros que são maiores que muitas cidades do interior. E no blablablá, o amigo observou que o difícil não é administrar uma cidade, o difícil é administrar a corrupção dentro da administração, caso um prefeito viesse a aceitar e fazer parte de tal ato.

Eu fiquei pensando muito sobre isso. Não sou autoridade em questões administrativas e muito menos em “corruptivas”, mas o dizer do amigo me chamou a atenção.

Numa administração pública, corrupção não é difícil de acontecer, seja nas repartições, seja nas secretarias, mas a corrupção de maior volume e de maior valor é provavelmente o prefeito e sua cúpula de “confiança” que faz, pois ali é a gerência das transações de grande porte, contratos, compra de mercadorias, acordos etc. E tendo uma cúpula conhecedora dos atos e fatos, realmente, administrar a corrupção não é um trabalho fácil, é trabalho de nego estudado, conhecedor de leis, planejador de ações... pilantra oficial!

A questão está justamente aí, na cúpula, pois todos têm que estar satisfeito com o saldo da corrupção, caso haja um descontente ou um traído, põe-se a perder tudo e a vaca vai pro brejo. Tem que haver confiança entre o corruptor e o corrompido, ninguém pode desconfiar de ninguém, ninguém pode cobrar nada de ninguém, todos têm que falar a mesma linguagem... É fácil administrar uma ilegalidade corruptiva? Não! Vamos a um exemplo: A administração forja o ganho de uma concorrência à uma determinada empresa para construir uma obra. A forja tira da empresa o lucro real ou um lucro a mais; pra não perder ou para ganhar mais, a empresa compra material e contrata mão de obra de terceira categoria. A obra nem bem começa e já se observam falhas, defeitos, erros e a coisa vai caminhando. No final, se é que chega ao final, a obra, por mais simples que seja, apresenta-se com péssima qualidade de acabamento e com problemas em sua utilização, todo mundo vê que fizeram “nas coxas”; tudo isso impedido de fiscalização por parte do contratante, em função da corrupção, e para não haver desentendimento. O uso do dinheiro público não foi aplicado com responsabilidade. Isso é um pequeno exemplo; é que nem casa de formiga que pelo tamanho da porta não se dimensiona o que existe lá dentro.

O povo vê tudo isso, mas debita a função de fiscalizar aos vereadores em que votou; esse, se também não fiscaliza é porque, de uma forma ou outra, faz parte da esquema.

O Ministério Público por si só não fiscaliza, a não ser que aconteça uma denúncia, coisa que também é rara, pois no Brasil, nós somos brasileiros. E é por isso que a cidade não cresce, não se desenvolve, seus equipamentos de saúde, educação, segurança, cultura, lazer... vivem à míngua, pois além do dinheiro desviado existe o tempo empregado no trabalho de engenhar a corrupção, que tem de ser muito bem administrada, porque senão, a exemplo do mensalão, a casa cai. Na verdade, atos ilícitos caem de qualquer forma, ou pelos braços da justiça, ou sem muitos danos ao corrupto e toda sua turma de laranjas e outras frutinhas que caem pelos dedos do povo de paz, votantes nas teclas das urnas.

Mesmo depois de “expulso” pelo voto, os corruptos ainda têm que administrar muito bem a questão “corruptiva”, às vezes, o laranja passa a perna do corruptor chefe, existem ameaças, a turma da nova administração pode descobrir fraudes, enfim, é difícil imaginar um corrupto que ponha a cabeça no travesseiro e turma tranquilo.

É! Realmente, o amigo tem razão, administrar uma cidade é fácil, difícil é administrar a corrupção.

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