Estes 84 dias, contados desde o dia 8, serão os de transição: tempo de escolher secretariado municipal, definir os principais cargos de confiança, os gestores para as múltiplas unidades municipais. Ao mesmo tempo, de inteirar-se, com o que restou de operacional da gestão eduardiana, de a quantas andam os diversos órgãos e serviços municipais - se é que Eduardo César e sua mania de fazer política nanica dará qualquer relevância a esse processo. Consta que o grande perdedor das eleições "concedeu" entrevista a uma rádio, que há tempos armou sua barraca de campanha, dizendo que as portas da Prefeitura estarão abertas a Moromizato, tendo em vista inclusive que o novo prefeito assumirá em plena temporada. E, no entanto, sabe-se lá em que estado deixará o caixa municipal. O que se tem como certo é que as máquinas recolhidas por longo tempo trabalharam um bocado nas últimas semanas (em paliativos que as próximas chuvas destruirão), ainda que não tenham conseguido muito em benefício do candidato de 17,99. Que muito dinheiro foi gasto pela máquina municipal nos últimos meses. E que há ainda muitos compromissos da fracassada campanha a saldar, choro e ranger de dentes - acabo de ouvir berros de raiva, aqui perto de casa, de candidato que gastou o que não tinha e agora reclama da traição de que foi vítima, pois o apoio prometido a ele acabou indo para um candidato aqui do pé do Funhanhado, que o máximo que conseguiu foi uma primeira suplência. Passado o período de transição, que não se prenuncia fácil não só pela inoperância do apagar das luzes da gestão eduardiana, mas também porque o próprio Moromizato precisará acomodar os múltiplos interesses que resultaram em apoio à sua campanha, começarão os famosos cem primeiros dias. Trata-se de um mito, o de que deve-se poupar de críticas o novo governante nos seus cem primeiros dias de mandato, porque nem sabe onde fica o interruptor de luz nem, exatamente, qual é a porta do sanitário. Isso, contudo, pertence a uma lenda política burguesa, especialmente daqueles que precisam dos primeiros cem dias para estabelecer a ordem de bicar que existe na sociedade dos galináceos. O voto de confiança dos cem dias já foi dado, no dia das eleições. Qualquer coisa que faça já nos 89 dias de transição e nos primeiros cem dias de mandato estará sujeita a crítica, até porquê o eleito se declarou preparado para o mandato que postulava. Se será razoável caseiro, bom zelador, respeitado prefeito ou admirado estadista, isso agora depende dele. Mas não espere afagos, ainda que deva repelir extremos, tanto o puxa-saquismo que consagrou o "Super" - a grafia aqui na revista O Guaruçá costuma ser "Çúper" - quanto a crítica desequilibrada, bacamartiana ou virulenta. O fato é que todos os seus atos e posturas, desde agora, estão sujeitos ao escrutínio popular, especialmente da mídia. E há, finalmente, que esperar dos jornalecos e radiozecas daqui que, finalmente, deixem de ser armazéns de secos e molhados e passem a ser críticos da nova gestão. Não qualquer crítica, já foi dito, mas aquela que tenha consistência. E que o novo prefeito rompa com seu costume de não se manifestar sobre as coisas de Ubatuba. Dificuldade em falar já provou que não tem. E, se tem dificuldade para escrever, delegue para seu assessor de comunicação, talvez algum jornalista daqui bem conceituado, a tarefa de redigir textos sob sua orientação pessoal. Enfim, os primeiros cem dias serão turbulentos, não há dúvida. A "herança maldita" inclui, especialmente, o caótico atendimento à Saúde. Postos que não funcionam por falta de médicos, repasse de verba federal para o setor suspenso, atendimento básico que não provê o básico e acaba por sobrecarregar a instituição privada Santa Casa, turistas e veranistas que chegarão aos montes e que demandarão serviços públicos. A par disso, um funcionalismo que adquiriu ao longo dos últimos anos vícios, cacoetes e uma certa e inadmissível indolência, uma "enorme turma" a dispersar (e dispensar, se for o caso, mas sem perseguição nem leniência), colocar para funcionar o muito básico sistema de arrecadação fiscal, dando confiança ao contribuinte de que sua contribuição compulsória não será malbaratada. É um rol imenso, de coisas a consertar e a fazer, e coisas a prevenir e evitar. E tudo isso, sim, nos primeiros cem dias, enquanto estará presente o efeito de ter obtido respeitáveis 47,24% dos votos válidos em pleito com oito candidatos, embora um bom tanto desse percentual não por méritos de sua campanha e suas propostas, mas porque simplesmente um tanto lhe caiu no colo decorrente de opção do voto útil para desmontar o esquema eduardiano - e será produtivo que não tenha ilusões quanto a isso. Cabe-lhe surpreender os céticos logo nos primeiros cem dias. E provar, nos próximos quatro anos, a que veio, e que faça Ubatuba brilhar. Não será coisa fácil. Mas talvez seja possível.
Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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