Impossível não ter contato com a "música" de Teló. Um non sense que caiu no gosto medíocre mundial, tema até de "ring tone" de celulares que ouvimos por aí. Não quero, na eleição municipal deste ano, nem o "Ai, se eu te pego", nem quero o "tchá", nem "tchu". Se não for possível ter um bom prefeito, que tenhamos, ao menos, um razoável zelador, o que Eduardo César nem isso conseguiu ser para Ubatuba. Essas tais "músicas", crimes eleitorais, crimes contra o bom gosto, são nacionalmente criminosas. Seja nas propagandas dos candidatos a vereador, seja nas dos candidatos a prefeito, está presente nos alto-falantes do país inteiro, muitos dos quais de um som estridente e irritante - especialmente aqui, no pé do morro do Funhanhado. Na capital de São Paulo, o PSDB do eugenista e elitista Serra, paradoxalmente, rendeu-se à música popularesca. De qualquer forma, menos, menos: "música" ruim não é uma figura penal típica, não há crime em sentido estrito, mas apenas como figura de linguagem. Consultei meu guru em política local aqui de Ubatuba, o editor desta revista O Guaruçá, em cujo tirocínio aprendi a confiar ao longo dos últimos três ou quatro anos. Do que é velho, conhecido, rançoso até, ele descarta tudo (incluindo, é claro, os sucessores diretos da meleca geral). Dos poucos dois viáveis e jovens novos nomes, considerando inclusive seus patrocinadores, inclina-se por um deles, cujas mensagens também me agradam. Mas nem é esse o ponto. A questão é: quem é eleitoralmente viável para se contrapor ao candidato da coligação situacionista "Ubatuba, infelizmente, merece"? São oito candidatos, uma pulverização de votos numa cidade que não terá segundo turno. O tiro precisa ser certeiro, útil, sob pena de Eduardo César eleger seu poste, um saco de papel subalterno tão bem descrito pelo Loiro. Entre o que é velho está o candidato (com o maior orçamento registrado na Justiça Eleitoral) do partido da grande estrela vermelha, partido que, em Ubatuba, não soube nem, acho, está sabendo capitalizar o sucesso eleitoral decorrente dos mandatos de Lula e Dilma. Enquanto o PT fez história em cidades conservadoras, onde sofria forte rejeição, ao deixar a política de boteco, dos conchavos bacamartianos e dos "senadinhos" para pisar por quatro anos, ininterruptamente, a rua de terra batida das comunidades periféricas, em Ubatuba sua militância (se é que há alguma) limitou-se a uma parte do aglomerado central do município, em conhecidos espasmos pré-eleitorais. Em seu site, nem a relação de candidatos a vereador tem. Entre essas cidades conservadoras inclui-se Araraquara, onde o PT soube, sem abdicar de seus fortes laços com a academia e com os intelectuais, deixar "a pedra" (como alguns conservadores nominavam o grande quadrilátero central da cidade, com suas ruas de paralelepípedos) e trilhar os caminhos difíceis das periferias. Acabou elegendo e reelegendo, além de sólida bancada na Câmara Municipal, o então prefeito que hoje é o deputado e presidente estadual do PT. Abre-se, então, velhíssima discussão sobre voto útil, que defendo, mas contra o qual, por princípios solidamente defendidos, opunha-se a filósofa Marilena Chauí, antes de desencantar-se com a grande mídia e, suspeito, com o grande partido da estrela vermelha. Lembro-me de evento de uns 16 ou 20 anos atrás, no auditório do campus da Unesp em Araraquara, onde a Chauí, bonita e inteligente, verberou contra o voto útil, dizendo, em minha síntese certamente capenga, que entre o péssimo e o pior, seria melhor optar pelo aparentemente inviável, mas digno da expressão máxima da cidadania, o voto. No entanto, como saber qual voto (ainda que menos digno) poderá ser útil, à míngua de pesquisas eleitorais? Consultando blogs ou as redes sociais? Consultando os jornalecos costumeiros e os de ocasião de Ubatuba? O único jornal que talvez pudesse fazê-las seria o Imprensa Livre, mas já disse que não fez e não fará, ao denunciar pesquisa apócrifa que circula pelas tais redes sociais mencionando o nome do jornal. Uma pena, especialmente agora que, para mim, o Imprensa Livre, com seus bons repórteres, acabou: é que resolveu tornar acessível seu conteúdo on-line apenas para os assinantes, coisa para custar mais de 300 reais ao ano - dinheiro que não tenho para gastar com isso. O IL foi o jornal que denunciou a grossa falcatrua que ocorre na SA Comtur, matéria de um novel jornalista, que está a substituir o experiente repórter daqui que hoje se dedica - que ninguém é de ferro... - a descolar alguns trocados no mercado da assessoria a políticos. Talvez tenha sido da lavra dele, o que não é de ferro, alguma matéria simpática a alguém que oscila, dizem, entre os hipotéticos primeiro e segundo lugares - o segundo será o perdedor aqui, onde só haverá um turno. E há as matérias, ao menos duas, que o IL publicou sem menção de autor ou origem (assumindo, portanto, a editoria), garantindo que o candidato oficial da coligação "Ubatuba, infelizmente, merece" teve séquito de "milhares de pessoas" em suas andanças pelo município. Ocorre que milhares é plural, no mínimo duas mil pessoas. O que vi, aqui, no pé do Funhanhado, foram, talvez, pouco mais de uma única centena de militantes seguindo um saco, muitos dos quais certamente pagos. As fotos publicadas não chegam a provar, sequer, as centenas. Instalado, então, o dilema: qual voto será útil? É nesse dilema que vejo Ubatuba, a quem resisto chamar de "cidadezinha". Para mim, é um paraíso, um paraíso a construir, construção cada vez mais difícil. Vejo problemas com coisas básicas, mostradas quase diariamente pelo celular indiscreto do Ching Ling Uw, por perguntas feitas pelo Julinho Mendes (e que endosso, eu as faria) e não respondidas, feitas pelo José Ronaldo, pelo Sidney Borges: cadê nosso estadista? Cadê nosso prefeito? Cadê nosso zelador? Cadê, ah, vá lá, nosso caseiro minimamente diligente? Acompanho meu guru. Nada de velharias políticas, exceto se, ainda que menos digno, seja voto útil. Acrescento: alguém novo, que, ao menos, possa ser competente caseiro, quiçá bom zelador. Declarando-me quase ingênuo, que possa ser razoável prefeito. E, como acredito em (porque já vi um) Saci-Saperê, que talvez seja um competente estadista.
Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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