Julinho Mendes | |
Chamamos de peixe escalado. É o processo de abrir o peixe pelo lombo (costas). Assim é feito para posterior salgamento e secagem ao sol. Método antigo usado pelos caiçaras para conservação, mais duradoura, do pescado. Guardado em lugar seco e arejado, chega a manter-se em bom estado de consumo até um ano. Com qualquer peixe pode-se fazer a secagem, mas os melhores para apreciar em um bom prato são: a tainha, a cavala, a sororoca, a anchova e alguns outros. Uns dos ingredientes principais na feitura desse prato é o acompanhamento da banana madura, batata doce, cará roxo, ou ainda da abóbora. Em minha opinião com a banana madura o prato fica mais saboroso. Como fazer? Assim como o bacalhau, deixe o peixe de molho em água fria, da noite pro dia, para tirar um pouco o sal. Preparar os seguintes ingredientes: três dentes de alho, uma cebola, um tomate, um maço de cheiro verde, coentro miúdo ou grande do mato (que só nasce em terreiro de caiçara), coloque tudo já picado no panelão e deixe fritar no óleo, depois de meio frito, coloque água pré-aquecida na panela e em seguida mergulhe o peixe seco cortado em pedaços. Cinco minutos depois que começar a ferver, coloque sobre o peixe, mais ou menos meia dúzia de bananas nanica meio verdolengas; espere amolecer e pronto. Em seguida vem o pirão: em vasilha separada coloque de três a cinco xícaras de farinha de mandioca (farinha de mandioca mesmo, daquelas feitas pelo pessoal do Mané Grande, do Francisquinho, da Dona Margarida, lá do sertão de Ubatumirim, não dessa serragem industrializada que vendem em supermercado); separe as bananas e despeje o caldo amarelo fervendo em cima da farinha fazendo aquele escaldado; em seguida amasse as bananas, fazendo uma mistura só. Pronto, está pronto o pirão, é só servir! Carque uma pinguinha, daquela feita pelo seu Lima, lá do Ubatumirim, prepare um limão e uma malagueta e encha a pança. O salgado do peixe com o adocicado da banana no pirão faz com que a gente coma até o bicho fazer bico. Para mim é a melhor comida do mundo! Não me venha com esse papo de lasanha, estrogonofe, bacalhau, caviar, e outros escargôs... que não bate no meu pirão de peixe seco! Esse prato eu batizei de “Amarelo marinho”, que assim como o “Azul marinho”, também tem efeito afrodisíaco e principalmente genético, pois casal que queira ter filhos louros é só comer a coisa, ou melhor, o amarelo marinho, mas tem um segredo que mamãe guarda a sete chaves, só eu sei; mas qualquer dia desse eu conto aqui n’O Guaruçá.
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