Ao contrário do que alguns amigos pensam, a questão mais preocupante não é a de religiosos participarem da política, de ocuparem cargos eletivos ou serem nomeados para cargos de confiança na administração pública, o que me preocupa é a politização da religião. É preferível os cristãos no poder do que simpatizantes de regimes totalitários, simpatizantes de narcoguerrilheiros, terroristas a quem chamam de revolucionários, elementos cujas ações criminosas, a exemplo dos seqüestros do Abílio Diniz e do Washington Olivetto, são estrategicamente vistas como atos políticos e não como crimes comuns. A religião, contaminada pela política, pela ideologia, resulta em fundamentalismos e outros ismos. Passa a ser mero instrumento do poder temporal. Acaba consagrando o mal como bem. Vejam o comportamento da CNBB, de marxismo cosido na bainha da batina de muitos de seus bispos com a retórica do coletivismo, do socialismo. Em vez de cristianizarem o marxismo, marxizaram o cristianismo. Tudo em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, mas que acaba, a história tem mostrado, desembocando na repressão e no autoritarismo. Há também os fundamentalistas islâmicos, os wahbis. O Osama Ben Laden é wahbi. É uma corrente violenta, intolerante e fanática para além de qualquer medida. Desvirtuaram o islamismo. Teve origem na Arábia e é a teologia oficial dos estados do Golfo. "A Arábia Saudita é a única causa verdadeiramente importante e ativa na radicalização, ideologização e fanatização em geral do islã", diz Seyyed Vali Reza Nasr, professor de Ciência Política na Universidade da Califórnia, em San Diego. Que cristãos, católicos ou protestantes, ocupem cargos na administração pública, considerando-se o núcleo ético do cristianismo, não vejo nisso nenhuma inconveniência, muito pelo contrário. Preocupa-me mais materialistas e ateus com seus fundamentos éticos imanentes. Há bons e maus cristãos, todavia, o critério ético de julgamento político é o de resultados e também o de responsabilidade. Se uma obra de infra-estrutura é feita precedida de preces para que tudo corra bem e o resultado da obra atende às necessidades da população, resulta em bem estar público, aqueles que crêem dão graças a Deus. Que mal há nisso? Se o resultado for ruim, que sejam cobrados os responsáveis com a força da lei ou defenestrados pelo poder das urnas. Deixemos nossos governantes escolherem seus assessores e cobremos deles o que todos esperam. Amém.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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