Julinho Mendes | |
Depois das casas de pau-a-pique e de taipa, que eram feitas de bambus amarrados com cipós-de-imbé e barro socado, começaram a surgir a construção de casas com tijolos de barro. Esses tijolos eram feitos usando-se uma forma de madeira ou de ferro, como a da ilustração acima. Acredito que o processo é o mesmo de hoje, ou seja, coloca-se o barro amassado numa forma para moldar e em seguida leva-a ao forno para fazer a queima e dar resistência ao artefato. Enquanto hoje se produz um milheiro em um minuto, antigamente era um tijolo no triplo desse tempo. Grande diferença! Mas começou assim. Temos duas formas de tijolos no Museu Caiçara de Ubatuba, uma de madeira e, agora, uma outra de ferro (doação de dona Aurita). A casa de meu pai tem cinqüenta e um anos. Quem a construiu foi seu amigo Zé Diniz. Recentemente foi feita uma reforma e ao “desrebocar” uma das paredes, percebemos que os tijolos ali sobrepostos, já de uma safra mais moderna, foram assentados apenas com liga de barro. Papai falou que não existia cimento naquela época e que as paredes eram feitas assim mesmo; agora observamos que a liga (massa) de cinqüenta e um anos ressecou e se esfarela facilmente, parecendo os asfaltos farelentos que andam colocando nas ruas por aí. As casas e casarões antigos de São Luiz do Paraitinga também foram feitos utilizando o mesmo processo. A massa de barro, que junta os tijolos, com o tempo perdeu a propriedade e a liga, virou farelo de areia. Com a recente enchente do rio e a inundação que houve lá, as construções foram desmoronando. Nunca que uma casa, um casarão ia cair com a ferragem e o cimento que são usados hoje. São Luiz está se reerguendo e, diga-se de passagem, com muita vontade de seu povo, com muita festa, muito projeto cultural, muita intervenção dos governos estadual e federal. Tá ficando bonita de novo! E o nosso “Casarão” que foi feito com tijolões de forma de madeira e que foram assentados com a mesma massa de barro? Já observamos samambaias e outras vegetações nativas enraizando-se pelos vãos de seus tijolos. Entra prefeito e sai prefeito e desses politiqueiros não se vê uma ação concreta junto ao governo estadual e federal para agilizar a restauração do nosso “Casarão”. Enquanto cidades inteiras do período colonial são restauradas e preservadas vizinhas a nós e pelo interior do Brasil, aqui, em Ubatuba, o único prédio e de maior importância, já tombado pelo CONDEPHAAT e IPHAN, vira ruína, cresce mato em suas paredes, está ao deus-dará e a ver navios. Acho que estão esperando cair primeiro para depois pedirem dinheiro aos governos para levantar. Que o próximo prefeito tenha vergonha, tenha conciência e que uma das primeiras coisas que faça seja reivindicar junto ao governo estadual e federal a restauração do nosso “Casarão”, patrimônio cultural, acima de tudo, brasileiro.
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