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COLUNISTA
Julinho Mendes
13/04/2012 - 10h03
Luz, câmera, ação. Mazzaropi em Ubatuba
 
 
Arquivo JCM 

Largo da Matriz. O obelisco servia de base para as brincadeiras de pique-será, soldadinho-salve e esconde-esconde. No coreto, “a furiosa” punha-se a tocar as mais variadas músicas do popular brasileiro. Carrinhos de pipocas, algodão doce, amendoim e ainda o carrinho de bugigangas do inesquecível Bem-te-vi; um baiano que foi o primeiro camelô de Ubatuba, que para atrair a criançada imitava o passarinho, que sempre foi comum nas grimpas das palmeiras imperiais.

Praça Exaltação da Santa Cruz. Do lado da rua dona Maria Alves: a farmácia do Filhinho, a bicicletaria do Dito Bento, a pensão do Braga, o artesanato do Lacerda e o atelier de João Teixeira Leite. Pela rua Condessa de Vimieiro, tínhamos o bar do Pradinho, o bar do Franklin, o armazém do William e o mais importante centro de diversões de Ubatuba, o Cine Iperoig, que quando apresentava filmes de bang-bang ou de romance tinha seus assíduos telespectadores. Mas nada se comparava quando o cartaz anunciava: “Chofer de Praça”, “O Lamparina”, “Um Caipira em Bariloche”, “O Jeca e a Égua Milagrosa” e tantos outros, dentre os 32 filmes de Mazzaropi. Aí sim! Aí era uma festa! A praça ficava repleta, tanto na matinê como na sessão noturna. Não havia um lugar sequer para se sentar, aquela muretinha de frente ao cinema parecia poleiro de baitacas. Ali era o lugar dos mais diversos tipos e figuras da miscelânea ubatubana. Dentre todos, tinha uma figura especial, uma pessoa que se destacava com suas brincadeiras, suas risadas, seu falar, seu andar, seu gesticular, enfim, o carinho que as pessoas tinham por ele era coisa incomum. “Zezinho” do Zé Diniz, lanterninha do cinema, era essa a figura.

Depois de ter rodado o filme “Jeca e seu filho preto”, na cidade de São Luiz do Paraitinga; Mazzaropi fez questão também de fazer umas externas aqui em Ubatuba, onde em 1979 produziu o filme “A banda das velhas virgens”, onde o cenário foi o Largo da Matriz, em que protagonizou como maestro da banda, tendo como palco o coreto de nossa praça. Esse filme deu o que falar; acredito que foi o de maior dificuldade para Mazzaropi e sua equipe, pois em apenas uma cena, houve mais de dez cortes.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Corta! Erro na fala do personagem. Outra vez.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Coorta! Faltou iluminação. Outra vez.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Cooorta! O padre esqueceu o chapéu.

Até aí os erros eram normais, coisas de filmagens. Outra vez, desta vez não tinha erro, segue a cena, pedia o diretor.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Coooorta!

O que foi agora? Adivinhem quem passou na frente das câmeras? Ele mesmo, “Zezinho” do Diniz! Outra vez.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Cooooorta!

De novo? De novo! Agora foi o Tarzan, um funcionário do Bananinha da Casa Lippi, que atravessou, carregando um saco de batatas nas costas, por detrás da cena. Aí a coisa começou a ficar, tanto hilária, como nervosa; de um lado os curiosos riam sem parar, do outro lado os artistas já demonstravam cansaço e o diretor ficava bravo. Dez minutos de descanso e outra vez deram início.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!! Coooooorta!

Não é possível, de novo ele, o “Zezinho” do Diniz, que de novo passou de frente às câmeras.

- Chamem a polícia! - Ordenou o diretor para que fizessem um cordão de isolamento para não deixar ninguém passar.

Tudo arrumado, tudo em segurança, agora não teria erro.

- Cena 8, atenção, luz, câmera, ação!!!

A cena corria normal já há três minutos; de repente ecoa pelo ar um “Preeeeeeeeeeeeeeeeega fooooogo”.

- Coooooooorta porr...! - Gritou, já de saco cheio, o diretor. - Quem que deu esse grito?

Todos os curiosos já sabiam, menos o elenco e a direção da filmagem. Era o vovô Lindolfo que passava pela Maria Alves e vendo o povaréu reunido, deu o seu famoso e estridente grito que tirava a atenção de qualquer um: “Preeeeeeeeeega fooooogo, não deixa a vaca deitar”.

- Guardem os equipamentos, amanhã refazemos a cena! - Ordenou Mazzaropi, já estafado com a difícil e demorada cena, que se sucedia às portas da Igreja Matriz.

O filme rodado em nossa cidade foi o penúltimo de uma série de 32 filmes de sua carreira. Mazzaropi nasceu em São Paulo - Capital em 1902 e veio a falecer em 1981, no meio do seu 33° Filme. De norte a sul, foi campeão de bilheteria.

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