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COLUNISTA
Julinho Mendes
05/04/2012 - 10h00
Luiz de Oliveira e a Lira Padre Anchieta
 
 
Depoimento de Luiz de Oliveira
Arquivo JCM 

Assim ele me contou:

“Eu e mais alguns amigos incentivamos, trabalhamos e conseguimos eleger como prefeito a pessoa de Wilson Abirached. Fizemos campanha diferenciada, visitando casa por casa. Eu e meu irmão éramos barbeiros, conhecíamos e tínhamos amizade com todo mundo; a população era pequena naquela época e assim conseguimos eleger o Wilson Abirached, por volta de 1959. Eu não tinha interesse em cargo político, somente fiz a ele um pedido, caso fosse eleito, para que adquirisse para a cidade instrumentos musicais para que pudéssemos formar a nossa Banda Municipal, e o Wilson prometeu isso para nós.

Três meses após sua posse, fomos falar com ele a respeito dos instrumentos e, para nossa surpresa e decepção, ele veio com uma conversa que não tinha nos prometido nada e que não ia comprar instrumento nenhum; era desperdício de dinheiro. Saímos de lá “p” da vida e infelizmente não podíamos fazer nada.

Comentei o fato com Lycurgo Barbosa Querido que fazia barba e cabelo comigo em minha barbearia e falei ainda que eu e mais um grupo de amigos, já há oito meses, fazíamos ensaios musicais sem instrumento, aprendendo notas e tons pelo processo de solfejar. Sensibilizado pela nossa causa, o Lycurgo não prometeu, mas disse que quando fosse para São Paulo ia ver se conseguia tais instrumentos na corporação musical da Polícia Militar de São Paulo, pois tinha um cunhado que era maestro da corporação musical de lá. Não demorou dez dias, eu recebi um telegrama do Lycurgo dizendo que tinha conseguido os instrumentos e que já estava enviando para Ubatuba. Quatro dias depois os instrumentos chegaram e então começamos a ensaiar de verdade e fizemos a primeira banda musical de Ubatuba. Do solfejamento para os instrumentos foi muito fácil e não demorou muito já estávamos fazendo alvorada pelas ruas, acordando o povo da cidade. Foi um sucesso. Crianças e adultos nos acompanhavam pelas ruas. O pessoal apelidou nossa banda de “Furiosa”. Tocávamos com vontade, de encher os pulmões e soprar. Era realmente furiosa a nossa banda! Ô saudade! Depois foi que criamos a Lira Padre Anchieta, no ano seguinte, em 1960.

Um belo dia, depois de termos recebido os instrumentos, o Wilson Abirached, pela manhã, chegou a nossa barbearia e como de costume sentou-se em minha cadeira e pediu para que eu fizesse sua barba. Afiei a navalha, preparei a cuia com o creme de barbear e comecei a fazer o meu trabalho. Nisso fluiu uma conversa. De repente o Wilson me perguntou se nós estávamos contentes e ensaiando com os instrumentos que ele tinha conseguido para nós. Foi a gota d’água. O sangue subiu para minha cabeça e eu dei, já com vontade de algum tempo, um esporro tão grande no cara, que ele ficou branco feito neve. Acho até que pensou que eu ia cortar o pescoço dele com a navalha. Fui lá na gaveta, peguei o papel do telegrama e coloquei bem perto da cara dele: ’- Olha aqui seu safado mentiroso, quem conseguiu os instrumento foi o Lycurgo Barbosa. Tá aqui o telegrama que ele me mandou’. Deixei o cara com metade da barba feita e a outra metade da cara com o creme de barbear. Foi o Renato, meu irmão, que terminou a barba dele. Eu fui embora com uma raiva danada. Depois desse episódio, o Wilson tinha vergonha de ver e de encontrar comigo; nunca mais apareceu em minha barbearia.

A banda foi tomando forma, foi aparecendo mais gente e em 1960 fundamos a Lira Padre Anchieta. Tivemos muitas alegrias e fizemos muita gente feliz; fizemos até um conjunto para tocar em baile de carnaval. Tocamos muitas vezes nos bailes carnavalescos do Itaguá Praia Clube. Era um sucesso. A cidade inteira ia pular carnaval no Itaguá Praia Clube. Tocávamos as marchinhas carnavalescas que tanto eram divulgadas nas rádios lançadas no Rio de Janeiro e São Paulo. Tempo bom aquele!”

E assim, com muito entusiasmo e saudosismo, me contou seu Luiz de Oliveira esse episódio da história musical e da criação da Lira Padre Anchieta de Ubatuba.

Observo aí que, desde aquela época, a questão “político-cultural" não é levada a sério pelos nossos representantes. Se temos movimentos artísticos e culturais diversificados é por força e vontade de pessoas como seu Luiz de Oliveira e de tantas outras que fizeram de sua arte e de sua vontade uma Ubatuba mais festiva, mais musical, mais alegre. Parabéns ao seu Luiz e a todos que criaram e participaram da nossa Lira!

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