Emilio Campi | |
Na ordem do dia da 6ª sessão ordinária realizada no último dia 27, na Câmara Municipal de Ubatuba, foi apresentado o projeto de lei nº 14/12, do ver. Adilson Lopes - PPS, que dá a denominação de “Rua das Pedras” a via pública do bairro do Corcovado, no município de Ubatuba. Isso me fez lembrar de um ocorrido pitoresco e interessante. Não me lembro bem a data, mas foi no início da década de 80 e foi ainda no meado do mandato do amigo caiçara Ademir Peres Tomé, que atuava como vereador. Eu trabalhava na equipe de topografia da Prefeitura Municipal de Ubatuba; estávamos no bairro do Lázaro procurando por uma tal “rua Abricó”, onde íamos determinar a numeração (emplacamento) de uma nova residência. Procura daqui, procura dali e nada de encontrar tal rua; já tínhamos gasto mais de meio tanque de gasolina do Jeep e nada de encontrar a rua Abricó. De repente, andando na estrada de ligação Saco da Ribeira - Lázaro, hoje chamada rua João Glorioso, encontramos a figura do Jango Vieira, uma antigo e tradicional caiçara daquela região e que com certeza poderia nos dar informação da tal rua Abricó. - Bom dia, seu Jango! Como vai o senhor? - Bom dia! Tô mais ou menos. Ando com uma dor nas costelas que tá danado! - Isso é da idade do condor. - É verdade. Ontem estava com dor nos joelhos... - O senhor pode nos informar onde fica a rua Abricó? O Jango coçou a cabeça, passou a mão no queixo, pensou, pensou, pensou, ficou vermelho e depois de dez minutos começou a falar: - Olha, meus filhos, eu vi o filho do Thomé usando frauda, depois correndo na praia, brincando com a criançada, aí depois virou engenheiro. Um dia bateu em casa dizendo que era candidato a vereador e pedindo nosso voto. Claro! É do bairro, é gente nossa... votamos tudo nele; se elegeu e virou vereador. Acho que agora ele ficou sem juízo. Pois não é que o Ademirzinho inventou projeto para trocar os nomes das ruas, que eram de números, por nome de frutas? Eu até agora só sei que a rua 7, lá perto da entrada, agora é rua Abacateiro e a rua 8 passou a se chamar Limoeiro. Veja se pode uma coisa dessas? - Mas o que tem de errado nisso, seu Jango? - Perguntamos. - Não ficou mais bonito as ruas do Lázaro com nomes de frutas? - Se ficou bonito eu não sei, eu sei que não voto mais no Ademirzinho e quando ele vier pedir voto pra mim de novo, eu vou mandar ele pedir voto pros limoeiros, pros abacateiros, pros pés de uva, pros pés de abricós. Ora veja! Ele tinha é que por nome nas ruas em homenagem as pessoas antigas daqui do bairro, não de pé de fruta! Eu queria ver uma rua com o nome da minha mãe, do meu pai, do vovô e de muitos outros caiçaras antigos do Lázaro. Mais ele vai voltar aqui, deixa ele! - É. O senhor tem razão, seu Jango. Saímos dali refletindo sobre o incontestável argumento do velho caiçara. Na época, as mudanças de numeral para nome de frutas nas ruas do Lázaro foi de grande importância, uma vez que várias ruas de lá tinham os mesmos números e era uma bagunça danada. Quanto a questão política, não ficamos sabendo se foi favorável ou desfavorável ao nobre vereador. O que sabemos é que o vereador Ademir Peres Thomé foi muito atuante e levou muitas melhorias para o bairro do Lázaro. Uma coisa é certa nas eleições que teremos nesse ano: se depender das pedras do bairro do Corcovado, o nosso vereador Adilson Lopes pode se candidatar a prefeito que já está eleito. E tem ainda quem diga que só pelas moções efetivadas o nobre vereador já pode se candidatar até a governador do Estado. Isso é que é vereança!
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