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Toda praia tinha seu “espia”. Espia era a pessoa que ficava a observar o mar a procura de um refolhar, saltitar ou qualquer outro sinal de cardume de peixes a movimentar-se na tona d’água. A um desses movimentos, o espia, diante de seu búzio, tocava, no mais alto encher dos pulmões, o som de seu instrumento de comunicação. O som desse instrumento além de comunicar a entrada de peixes na baía, comunicava ainda, pelas diferenças sonoras, a espécie de peixe que estava a sobejar no largo da baía. Se fosse tainha, xaréu, cara-pau, anchova... para cada espécie de peixe tinha seu toque (som) diferenciado; aí a caiçarada, a mercê do que era mais importante, largava seus afazeres e corria para a praia, ao encontro de suas canoas, remos, redes, e em braços fortes remavam rumo ao cardume, motivo de alimento, de sobrevivência, de tradição, de gosto, de instinto. Pescar! Búzio é uma concha piramidal, com linhas longitudinais e transversais e três fiadas de nódulos na parte superior da espiral do corpo; é um caracol marinho. Em todas as praias tinha um espia. Alerta a observar o mar na Baía de Ubatuba, num dos tempos, tivemos um grande espiador que foi o pescador Antonio Athanásio da Silva, que ao menor movimento de água, sabia que peixe era e o tamanho do cardume e assim metia a boca no seu inseparável búzio; mas certo dia do mês de junho, de repente soou da praia de Yperoig um som nunca ouvido pela população caiçara; era um som agudo, mas perfeitamente melodioso; uns falavam que se fosse búzio era de chifre de veado, mas a curiosidade não deixou passar vontade e a população praiana correu para beira da praia. Chegaram lá e encontraram o Antonio Athanásio fazendo exibição de seu novo instrumento musical para comunicar a entrada de peixe na baía. Não era búzio de concha e sim um clarim (corneta) que tinha ganhado de um tenente do exército, e fazia assim seu exercício de sopro para anunciar a novidade. Hoje, esse clarim é parte integrante da história de nossa cidade e com muita honra, orgulho e valor, esse instrumento encontra-se fazendo parte do acervo do Museu Caiçara; foi uma doação recente do filho do pescador Antonio Athanásio, o amigo Edson Silva. Obrigado seu Edson, o museu e toda comunidade caiçara te agradece! Semana passada um búzio foi tocado pelo chamado de nosso querido caiçara Bado Todão que em parceria com o Museu Caiçara, Projeto Tamar e apoio da Pizzaria Bucaneiros e Instituto Bacuri, reuniu em nossa praia um punhado de pessoas ligadas a arte e a cultura de nossa terra, para iniciar uma discussão sobre uma política cultural necessária para nossa cidade. E aconteceu o 1° Caiçarau que, além da discussão política, teve muito café de cana, ciranda, cana verde e a apresentação do grupo Ubacunhã de seu coordenador Bado Todão. A cultura caiçara é única e marcante e precisa de projetos que incentivem e que apóiem seu resgate, sua manutenção e sua abrangência, para que nossos filhos e os filhos de outros não deixem morrer as nossas tradições. Vamos tocar búzios, clarins e trombetas, para convocar e despertar a vontade que esse povo guarda em festejar, em mostrar nossas músicas, danças, folclore, folias. Estamos precisando disso! Eu vou tocar o meu búzio para conscientizar os novos políticos que estão surgindo, de que a nossa cultura é motivo de desenvolvimento turístico e econômico. - Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
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