Tenho lido uma coisinha aqui, outra ali sobre planejamento e desenvolvimento dos municípios. Chamam-me atenção nessas leituras alguns termos recorrentes: articulação, co-responsabilidade, compromisso, interesses, são alguns deles. Dentre as invariantes que encontrei nesses textos e que, quero crer, se aplicaria ao caso de Ubatuba, a de articulação na negociação equilibrada de interesses é, a meu ver, a mais importante. Essa articulação se daria entre empresários, a sociedade civil organizada e o poder público. Um triângulo imprescindível no processo de planejamento do desenvolvimento do Município. Os componentes desse triângulo seriam chamados a serem co-responsáveis por esse processo, pelo futuro do Município. Não seria exitoso qualquer planejamento municipal sem a participação de um desses elementos. A lei municipal nº 2892, de 15/12/2006, do Plano Diretor de Ubatuba, prevê essa participação da sociedade em conselhos. É um avanço. Mas não dá muita ênfase aos empresários que, afinal de contas, são os que participam diretamente da produção de riquezas, geram empregos, movimentam a economia, propiciam melhorias na qualidade de vida da população. Tanto quanto a sociedade civil organizada, a participação dos empresários no processo de desenvolvimento do município é imprescindível. Quando digo empresário, refiro-me a todos que têm CNPJ, inclusive, os empresários ou empreendedores individuais. Quando vejo, e não é de hoje, empresários esperneando porque o turismo vai mal ou porque a temporada foi frustrante, apontar este ou aquele prefeito como único responsável por essas e outras mazelas do município, acautelo-me. Não gosto de unanimidades. Sem querer ofender a quem quer que seja, comparo essas situações à intensidade do fogo sob uma lata d’água cheia de siris. O fogo são as temporadas. Quando elas são lucrativas, o fogo é brando; a água, morninha e os siris, calminhos chegam até a espumar. Quando a temporada é desastrosa, o fogo aumenta, a água entra a ferver e os siris desesperados começam a distribuir pinçadas a torto e a direito. Sei que o gestor público tem grande parcela de responsabilidade pelas coisas que acontecem, pelas que não acontecem e pelas que poderiam acontecer. É preciso, então, uma nova postura que contemple uma nova forma de administrar, uma nova maneira de gerenciar o município através do planejamento participativo, que articule os interesses em jogo. Os conflitos de interesses são normais numa democracia. Os interesses dos empresários estariam desintonizados, desconectados dos demais interesses existentes na sociedade? Não acredito nisso. Não acredito que não saibam que todos os interesses estão, de uma forma ou de outra, interligados. Por isso, devemos ter compromissos, sermos co-responsáveis pelo destino da nossa Ubatuba, ou tô errado?
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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