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COLUNISTA
Julinho Mendes
13/02/2012 - 10h01
Patis brotados
 
 
Julinho Mendes 

Uma coisa que meu avô falava, que meu pai e muitos dos antigos caiçaras falam, é que em Ubatuba passava fome só mesmo quem era preguiçoso.

- O nosso mar e a nossa Mata Atlântica nos serviam com muitos alimentos, sem precisar plantar e sem precisar criar (desde que fosse retirado com consciência).

Era assim para os índios que aqui viviam, era assim para os caiçaras de outrora. Hoje, tanto a fartura e principalmente a consciência já não são as mesmas. Em função da imigração, a população aumentou e o surgimento do “minestira” (mistura de mineiro, nordestino e caiçara), fez com que essas peculiares iguarias gastronômicas naturais de nossa terra, já não sobejem mais com dantes, mas hoje ainda temos a colher muitos frutos, tanto do mar como da terra.

Marisco de praia e de costeira ainda se acha; guaiás é só assobiar e enfiar o pau de isca em toca de costeira que o bicho chega a entrar no balaio; peixes é a mesma coisa. Já falamos aqui no O Guaruçá de muitos frutos que em épocas variadas dão à beira de estrada e na mata nativa: falamos do maracujá roxinho, do bacupari, do cambucá, ananás de praia, mandacaru de jundu, araçás, goiabas, jacas, jambolão...

A imagem acima nos mostra agora o coco brotado do patieiro que, nesse mês de janeiro e fevereiro, no estrato médio de nossa Mata Atlântica, é coisa por demais. Tá tudo jogado no chão, tomando chuva e calor e botando sua raiz pra fora, para encravar na terra e nascer outra palmeira. É nessa hora que se apanha o coquinho, observando sua primeira raiz com um a dois centímetros pra fora, está ponta para colher. Quebra-se o coco e, de dentro, com uma ponta de faca ou mesmo uma colherzinha, extrai-se a polpa, que é meio algodoada e com um doce suave e peculiar que quem come um não consegue parar mais de comer. Quem já comeu o coco brotado do patieiro sabe do que estou falando. É, mais ainda, comida dos bichos do mato: caxinguelo, paca, tatu, cotia, macaco, bugio, mas é o porco do mato que mais aprecia tal iguaria e é nesse tempo que o caçador gosta de caçar o tal suíno, pois o bicho apresenta a carne com gosto de coco. Que diga o pessoal do sertão!? Mas o tempo de caçar já foi; agora é preservar!

Uma coisa positiva para a Mata Atlântica é que dessa palmeira (patieiro) não se extrai o palmito, porque senão, como vemos por aí, o índio também estaria cortando para vender igual o palmito da juçara. Estão acabando com a mata. Já se observa que os índios estão cortando e vendendo palmitos “fininhos” da juçara, palmeiras que não atingiram 4, 5 metros de altura. Um crime contra a natureza!

Tá todo mundo vendo e nem os ecologistas e nem a Secretaria de Meio Ambiente toma uma atitude para acabar com o corte indiscriminado do palmito juçara (já que é considerada árvore/palmeira em extinção). Caberia muito bem um projeto para por os Guaranis no cultivo e beneficiamento tanto do broto como do coquinho para suco, como já fazem o pessoal da Fazenda da Caixa, na Picinguaba.

Não! É mais fácil retirar da mata (sem consciência)! Assim ainda acaba afugentando e dificultando a vida de pássaros e animais silvestres.

Deixa acabar tudo! Aí, na hora que não ter mais nada, vão pensar em mandar os índios plantar palmito e vão ainda despejar dinheiro nas ONG’s.

É assim o meu Brasil!

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