Mitigar o sofrimento, a dor do próximo e também daqueles que estão distantes, que não vemos no dia a dia, mas que sabemos que estão em algum lugar nesta cidade, necessitando de ajuda, de algum conforto, é um princípio cristão, um dever cristão que desafia nossa fé, nossa religiosidade. Sei que há muitas pessoas caridosas e entidades assistenciais que se dedicam a ajudar essas pessoas, mas ainda é pouco, é preciso mais. É necessário que o Poder Público invista substancialmente nessas atividades, de forma racional: na saúde preventiva e na saúde médico-hospitalar. São louváveis as tentativas que se têm feito para revitalizar a Santa Casa de Ubatuba ao longo de todos esses anos e de tantas gestões, mas ficou cabalmente demonstrado que questões políticas e competência gestora a colocaram em situação terminal. São louváveis também os serviços prestados pelas Unidades de Saúde Familiar, os PSFs, existentes nos bairros. Nas vezes em que precisei do PSF do meu bairro, fui muito bem atendido. Aliás, devo fazer aqui, e deveria tê-lo feito antes, um elogio à médica, Dra. Graziela, que atende nessa unidade, perto de minha casa, pois se trata de uma médica que dignifica a profissão que tem, além de ser bastante cordial com seus pacientes. Parabéns. Os PSFs são fundamentais a qualquer política pública de Saúde. Mas é pouco o que temos, é preciso maiores investimentos. Há também o AME, na cidade de Caraguatatuba, do qual usei recentemente os serviços por ele prestados, em decorrência de encaminhamento do PSF de meu bairro. O atendimento do AME é exemplar. Felicito o governo do Estado por sua atuação na área da Saúde. No entanto, tendo em perspectiva o município de Ubatuba, é preciso mais. Pelo que pude presenciar, nas minhas idas ao AME de Caraguá, as dificuldades que as pessoas mais carentes, principalmente idosos, enfrentam em virtude da viajem, de serem obrigados a se locomoverem de bairros distantes em ônibus nada confortáveis ou depender de uma carona. Imagine, então, uma pessoa idosa que necessite, por exemplo, de uma colonoscopia, em que é preciso jejum de 12 horas e de laxantes fortíssimos até a hora do exame, ter de pegar ônibus para chegar no horário marcado e, depois, ainda ter de pegar o ônibus de volta para casa. É cruel. Há outras situações lamentáveis, como as que pude presenciar no Hospital São Francisco, em Jacareí, e no CENON, em São José dos Campos, que afetam pacientes do Litoral Norte. E são muitos esses pacientes, transportados em micro-ônibus das prefeituras litorâneas para tratamento de quimioterapia e radioterapia. Viagens diárias, cansativas, demoradas, para fazer tratamentos que poderíamos ter mais perto de nossas casas. É também cruel. Quem já fez quimio e radioterapia sabe do que estou falando, das reações do organismo e dos incômodos dessas viagens diárias. Essas e outras situações de sofrimentos seriam evitadas se o Litoral Norte dispusesse de mais recursos para investimentos na Saúde. Sei que Ubatuba, só com recursos provenientes do IPTU, muito pouco poderá fazer. Por isso, nossos futuros gestores terão de se empenhar para convencer o governo do Estado sobre todos esses problemas, sobre a necessidade premente de estender o atendimento do AME para que não precisássemos viajar para tão longe para fazer exames e tratamentos como quimio e radioterapia, tomografia, ultrassonografia, ressonância magnética, colonoscopia etc. e também sobre a necessidade da construção de um hospital regional nos moldes dos que hoje existem no interior do Estado. O eleitor ubatubense tem que se conscientizar dessas questões e tê-las em mente quando for às urnas. Do governo federal, do PT, não podemos esperar muita coisa, a não ser discursos e lançamento de planos que não saem do papel, já do governo paulista, do PSDB, devemos esperar que retribua os votos ubatubenses dados nas últimas eleições. Vamos fazer pelo próximo o que gostaríamos que fizessem por nós. Que tal?
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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