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COLUNISTA
Julinho Mendes
02/01/2012 - 13h03
Isaias Mendes: profissão alfaiate
 
 
Julinho Mendes 

- Leve, meu filho, a única coisa que lhe posso oferecer é essa TESOURA; leve e faça a sua vida! - Falou-lhe o pai.

O rapaz aprendera uma profissão, era alfaiate. Chegando em Ubatuba, por volta de 1955, com o pouco dinheiro que trouxera alugou um ponto e pôs-se a trabalhar. Fez concorrência ao Veridiano Tavares, primeiro e único alfaiate da cidade, que tinha como ajudante o Sr. Nilo.

Do doutor ao pescador, não lhe faltou freguesia. Os que mais lhe davam trabalho eram os “crentes”, esses faziam ternos a cada dois meses. Nos casamentos o terno do noivo era confecção de Isaias Mendes; no Judiciário, no Executivo, no Legislativo, nas escolas, nas festas religiosas, nos velórios, e nos arrasta pés; calças e paletós eram de Isaias Mendes.

Dos ilustres Isaias confeccionou para Ciccilo Matarazzo, Franklin de Toledo Pisa e Adhemar de Barros, governador do Estado, que muito freqüentava Ubatuba por influência dos Matarazzo. Zé Mesquita, morador da praia da Fortaleza, foi o seu maior freguês, fazia calça a cada mês, as vezes duas até; era um homem que até para pescar andava na estica, usando calça de tergal dobrada até o joelho. Seu Pedrinho, o único juiz de paz da cidade, esse só usava terno branco; mandou fazer um terno preto para ser sepultado no mesmo túmulo que construíra para quando morresse. Dr. De Lucas também só fazia calças brancas, só usava brim gabardine.

- Costurar em cetim era muito difícil, o pano é muito liso e escorregava na máquina - diz ainda hoje seu Isaias - mas não tinha jeito, aproximava-se o carnaval e com todo seu poder de REI MOMO, Catiara ordenava que a roupa tinha que ser confecção de Isaias. - Aquilo não era roupa, parecia mais ser um balão!

Fazia roupa para gordos e magros, altos e baixos; não gostava de fazer ternos para crianças. No verão a demanda era para as bermudas; fazia de quatro a cinco por dia.

Tinha duas. Uma Singer e uma Pfeiffer alemã, máquinas de costuras movidas a pedaladas que o deixavam com a batata da perna que nem um cerne de urucurana. Além da máquina de costura, a fita métrica, a tesoura, a agulha, o dedal, réguas modulares, o giz triangular e o ferro de passar, eram suas preciosas ferramentas e acessórios.

Em suas confecções usou tanto tecido que dava para cobrir todo o território brasileiro e usou ainda 120.000 km de linha, o que dava para dar três voltas em torno da terra.

Com a alfaiataria, constituiu sua família, construiu sua casa, teve seus fusquinhas, educou seus três filhos e ainda ensinou a profissão a alguns jovens caiçaras. Por volta de 1980, com o advento das calças jeans, das roupas industrializadas e dos grandes magazines, a profissão entrou em decadência; os preços das calças, dos ternos e bermudas eram bem inferiores ao dos alfaiates; só faziam roupas o pessoal das antigas. Para os jovens, roupa de alfaiate era coisa de cafona.

Eles estão por aí, uns aposentados, outros ainda na tímida atividade e outros tornaram-se funcionários públicos. Foram alfaiates que deixaram na elegância os homens da cidade de Ubatuba, como por exemplo: Nilo, Hercílio, Carlinhos (Piu-Piu), Antonio Mendes (Tonho), Antonio Guimarães (Toninho) e Pedrinho; estes três últimos, alunos de Isaias Mendes.

Os alfaiates que hoje sobrevivem são aqueles que confeccionam para os artistas e legisladores nas grandes capitais.

Aprender uma profissão e ser liberal, foi esse o conselho que papai sempre nos deu e deveria ser esse o encaminhamento da escola pública. Enquanto a escola pública continua ensinando exponencial, logaritmo, história da Grécia antiga, geometria espacial, para um povo que não tem perspectiva de vida e que sai dessas escolas para ensacar mercadorias em supermercados ou servir de flanelinhas nas ruas, as profissões como ALFAIATE, TINTUREIRO, SAPATEIRO, CHAPELEIROS, SELEIROS etc. estão em extinção.

Parabéns meu pai, Isaias Mendes, que nesse dia 30/12/2011 fez mais um aniversário e nesses seus 82 anos de vida já comeu muito feijão, muito “escardado” de macuco e muito ensopado de garoupa.

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