Julinho Mendes | |
O pavão é uma ave originária da Ásia, no Brasil é considerado exótico. Existem várias espécies de pavão: o pavão imperial, o branco, o dourado e o pavão azul. Foi o pavão azul que vendo a beleza e as facilidades nessa terra, adentrou na Mata Atlântica e, a princípio, com sua inigualável beleza exterior, foi conquistando a simpatia das demais aves. É considerado também como bicho prosa e exibido. Fez carnaval, fez protestos, denúncias, se converteu, falou que ia resgatar, moralizar a floresta etc. e foi o rei entre os pássaros da Mata Atlântica. Alguns tucanos, chupins, pica-paus, biguás e até um corujão passou a ser amigo do pavão azul. Dos animais, um mico-leão, um tamanduá-bandeira e um quatimirim, também se encantaram com a cauda cintilante do pavão. Quem diria! Tudo seria azul-floresta do pavão. Mandou pintar o preto do “brejaubeiro” de azul-colonial, o guapurubu de azul-celeste, queria que o ipê-amarelo florisse em azul-turquesa, que o roxinho do manacá se transformasse em azul-anil, até a joaninha teve que ficar azul. Num belo dia de sol, enquanto o corujão, depois de uma noite cansativa de trabalho, dormia profundamente dentro de sua toca, o pavão foi lá e pintou a fachada da toca do corujão de azul-calçinha. Ao acordar, o corujão, vendo sua toca em azul-calcinha, ficou “p” da vida, e jurou que ia acabar com a exibição do pavão. Preparou um belo de um bodoque e esperou o momento. Não tardou! Num dia de festa, o pavão azul saiu pela floresta espalhando um jornal azul mostrando imagens de sua exuberante cauda. Não deu outra! O corujão, vendo a improbidade do pavão exibicionista, não pensou duas vezes, pregou uma bodocada. A pelota acertou de cheio no papo do pavão, resvalou e ainda acertou o peito do “crocoxô” e de um bacurauzinho que estavam ao lado. Os plumados empacotaram de seus galhos numa pelotada só! O gavião e seu amigo carcará, que estavam vendo a delirante cena, racharam o bico e morreram de tanto rir. Um recém-nascido e inocente filhote órfão de curiango (o da imagem acima), não sabendo de nada, foi até às risonhas e “de rapinas” aves, querer saber e aprender como dar risadas. O gavião já de olho no inocente curianguinho assim falou: - Estamos rachando o bico e morrendo de tanto rir por causa do corujão que numa bodocada só empacotou o pavão azul, o “crocoxô” e o bacurauzinho; os bichos caíram lá de cima e voou pena de pavão pra todo lado. Você quer rir conosco? - Mas eu não aprendi ainda a rachar o bico e morrer em risadas! - Respondeu o inocente curianguinho. - Ah, é, então vou te ensinar! Tá vendo aquela parede branca? Você faz assim, assim e assado. Obedecendo à ordem do maldoso gavião, o curianguinho voou bem alto e foi de encontro a parede branca. BUUUUUMMMMMM! Literalmente o curianguinho rachou o bico e morreu. Com dó do curianguinho, o carcará perguntou ao gavião: - Por que você mandou o menino se chocar contra a parede branca? O gavião assim respondeu: - É que ele queria aprender rachar o bico e morrer de rir! Rá rá rá rá rá. Vamos saboreá-lo. Por que será que nessa nossa Mata Atlântica vira e mexe, tem caga-sebo, vira-bosta, “crocoxô”, tucano, bacurau e agora o pavão azul, levando pelotada e caindo de seus galhos? E será que algum observador de pássaros observou pra onde o pavão azul viajou?
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