E se os royalties não vierem? Continuaremos tapando sol com peneira? Ubatuba já viveu expectativa semelhante quando esperava a construção de uma estrada de ferro para o escoamento do café das fazendas do Vale do Paraíba pelo porto da Prainha, na baía de nossa cidade. Com o esgotamento do solo, a produção de café se transferiu para a região do oeste paulista e Ubatuba enfrentou um longo período de decadência. História velha, mas que, dizem, às vezes se repete, com outras roupagens... Se os royalties não vierem, continuaremos esfolando o contribuinte de IPTU para o custeio e para os investimentos? Esse imbróglio do IBAMA, deixando de fora Ubatuba porque o município não seria afetado por um possível acidente na extração do petróleo, cheira mal. Mas, em se tratando de órgãos federais, pelo conhecimento que deles temos através do farto noticiário dantes jamais visto neste país, que odor poderíamos esperar? Na década de 70, ocorreu um vazamento desastroso de um petroleiro, lá para os lados de Ilhabela. Nossas praias pareciam sorvete de flocos, com placas pastosas de óleo salpicadas no nosso mais precioso patrimônio. Saindo ou não a inclusão de Ubatuba entre as cidades a serem “beneficiadas” com os royalties, não estaria na hora de mudarmos nossa atitude passiva, pusilânime, diante das questões mais cruciais que envolvem o desenvolvimento do município e o bem-estar da nossa população? O município, com 80% de seu território “tombado”, vive tutelado pelo Estado e pela União. Não pode isso, não pode aquilo... Será que já não está na hora de dizer: Tá certo, caras pálidas, então vocês vão nos dizer o que é que pode, e queremos também que sejam partícipes compromissados com os projetos e programas de nossas políticas públicas. Queremos uma efetiva e substanciosa compensação por essa intervenção na nossa autonomia, no destino da nossa cidade. Simultaneamente, daríamos ampla divulgação dessa empreitada na mídia para que houvesse adesão e respaldo da população e dos turistas. É preciso que todos compartilhem o ônus para que todos participem do bônus. Sabemos que o poder político não deve ser reduzido exclusivamente ao Executivo e ao Legislativo. Há outras forças, outros poderes, até mais efetivos, que têm o dever de participar mais claramente desses desafios, dessas pelejas voltadas ao bem-estar social. Será que já não estaria na hora de se colocar em torno de uma mesa o Judiciário, o Ministério Público, os órgãos federais e estaduais que atuam no município, as instituições não governamentais, a Câmara e a Prefeitura para discutir os grandes problemas do município, e propor o rumo e as políticas públicas de desenvolvimento de Ubatuba? É cômodo ficar em gabinetes, dizendo não, policiando, podando, angustiando. Gostaria de ver essas forças atuando sinergicamente para o bem-estar dos meus conterrâneos. Mas a quem caberá a iniciativa, a quem caberá propor, conduzir, reger esta partitura de uma nova “Ubatuba sim”? Conheço alguns nomes. Mas seria preciso que estivessem todos no mesmo barco, que deixassem de lado o varejo das divergências e diferenças para se aterem ao atacado, ao essencial: resgatar Ubatuba desse marasmo, dessa morbidez. Colocar Ubatuba, neste momento histórico que estamos vivendo, acima dos interesses pessoais, dos caprichos e das vaidades. A História os veria com outros olhos. Entrariam e sairiam dela como leões e não como ratos como já costumamos ver.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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