Paraty tem o Festival Internacional de Jazz e a FLIP, Campos do Jordão tem o Festival de Inverno. Eventos que projetam essas cidades dentro e fora do País. Atraem turistas diferenciados com comportamentos adequados tanto nas atitudes, quanto nos bolsos. Nós temos a Festa de São Pedro Pescador, que projeta a cidade para... nós mesmos. Já é alguma coisa, não? Principalmente para nós, remanescentes, caiçaras. Traz-nos boas recordações. Eventos. Festas. Acho que ficou cabalmente demonstrada nossa competência somente para festas. Caseiras. Um dia, quem sabe, aprenderemos a promover eventos à altura dos acima citados. Paraty é uma cidade histórica, em que a leitura do passado é estimulada pela conformação da cidade, de suas ruas, pela sua vistosa arquitetura colonial. História e cultura – ingredientes que estimulam um público diferenciado. Um produto, um patrimônio que está sendo muito bem negociado. Turismo é isso. Você tem de ter um diferencial. As pessoas que procuram Paraty o fazem por causa desse diferencial e hoje pelos ingredientes a ele agregados: um festival de música e um de literatura. A cidade virou moda para um público específico, distinto. Qual é o nosso diferencial? As 80 praias? As ilhas? As cachoeiras? A extraordinária beleza da Mata Atlântica? Como estamos negociando hoje em dia esse patrimônio? Acredito que ele tenha sido um diferencial no começo dos anos 60. Época em que o paulistano rico e o de classe média alta, já cansados do litoral santista, do Guarujá, descobriram Ubatuba. A cidade era vista como sinônimo de beleza natural, de contemplação, de tranqüilidade, de descontração e que tinha uma população nativa acolhedora. Desde então, aos poucos, apesar de todas as dificuldades de acesso, Ubatuba veio se convertendo numa moda. Até o início dos anos 80, todos queriam vir a Ubatuba, investir em Ubatuba, construir em Ubatuba. Quem tinha imobiliária, quem trabalhava com construção civil, quem freqüentava as praias, quem freqüentava a noite ubatubense naquelas décadas sabe do que estou falando. Mas acabou. Na medida em que o que era raro se tornou banal e vulgar, a moda passou. Agora somos a cidade aberta: vem quem quer e a usa como bem entende. Democrática e socializada. Pão com Marba. E viva São Pedro Pescador!
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
|