Jaür Carpinetti | |
Um dos grandes pescadores de garoupa da cidade de Ubatuba é o nosso amigo Barrosinho; garoto nascido na praia do Itaguá e que foi criado a base de peixe com banana verde. Aprendeu com seu pai a arte e técnica de pescar garoupa; sempre em cima de uma canoa. Foi em cima de uma canoa que aconteceu um fato de fé e de grande admiração. Cansado de pescar garopetas na costeira do Cais e Ponta Grossa, resolveu ir pras bandas da Picinguaba ferrar uma garoupa maiorzinha. E assim fez. Não era sete horas quando já apoitava sua canoa na ilha da Selinha. Iscou metade de um bonito num anzolão e jogou ao mar, rente a costeira da dita ilha, diga-se de passagem, ilha esta até então, uma das mais bonitas e unificada das águas de Ubatuba. A isca nem chegou ao fundo e o bicho ferrou. Ferrou e entocou, não dando tempo para Barrosinho puxar antes de entocar. Com toda paciência, Barrosinho esperava a garoupa desentocar. Que nada! A bicha parecia que tinha se transformado em pedra. Do outro lado da ilha, também em canoa e também entocado com uma garoupa, encontrava-se o velho Onofre da Almada. E os dois, pacientemente esperando o desentocar das garoupas que estavam em suas respectivas linhadas. Deu nove horas, deu meio-dia, deu quinze horas... até que encheram-se os sacos em esperar as garoupas desentocarem e, prevenidos na comunicação nessa era de celular, Barrosinho liga para Onofre perguntando sobre a garoupa entocada: - E daí Onofre, desentocou a sua? - Que nada Barroso, quanto mais eu puxo mais a bicha entoca! E a sua já saiu? - Ainda não! A filha da mãe tá parecendo tatu mijão, que vai mijando e cada vez se enviando terra a dentro! - Eu já tô desanimando. Falou Onofre. Vou meter a faca na linha e vou m’embora! - Eu também já tô nervoso! Vamos fazer o seguinte: em vez de cortarmos a linha, vamos enroscar a poita pra que a canoa fique bem firme, e vamos puxar a bicha na marra. Que linha é a sua? - A minha é 200! - Respondeu Onofre. - A minha também, então dá pra puxar até um boi! Resolvidos por celular, assim fizeram os dois pescadores... Puxa de um lado; puxa do outro. Geme de cá, geme de lá. As canoas de ambos chegam a esticar de tanta força que faziam e nada das garoupas desentocarem, mas na esperança de comerem um escardado com banana verde a fé falou mais alto, e como diz o ditado que a “fé move montanhas”, ambos e ao mesmo tempo, aplicaram o último resto das forças que tinham em seus braços. Foi um estrondo só... Puuuuuummmmmmmmmmmmmmmmm. O que se sabe dessa história, é o que mostra a imagem acima. A ilha rachou e os peixes entocados, com certeza, eram peixes-pedra.
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