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COLUNISTA
Julinho Mendes
11/05/2011 - 10h00
A folia do Divino Espírito Santo
 
 
Julinho Mendes 

Nesse domingo das mães, pela manhã, estávamos na varanda, quando no céu uma nuvem (foto acima) me chamou a atenção, era a perfeita imagem de uma pomba branca, que de imediato me veio a imagem, símbolo do Divino Espírito Santo. Lembrei-me então que os foliões, persistentes nessa terra, já estão em peregrinações em visitas às capelas e casas de religião católica. É uma tradição que se mantém.

Lembrei também de um conto de meu saudoso amigo João de Souza, que relata o seguinte:

Os antigos caiçaras ainda têm suas lembranças de como era a folia do Divino. A folia era composta, em média, por sete pessoas, sendo dois violeiros, um rabequista, um marcador de bumbo, um tripe, um versista e uma mulher que carregava a bandeira. A bandeira era enfeitada com sete fitas coloridas cada uma representando o poder dos sete dons, que são: Sabedoria, Entendimento, Ciências, Conselho, Fortaleza, Piedade e o Temor a Deus; no centro tinha a imagem de uma pomba branca, representando o Espírito Santo.

Sempre saiam duas folias, sendo uma para o lado norte e outra para o sul. A do norte começava no Camburi (terra de seu Genésio) e terminava no Perequê-Açú (terra de Joaquim Emídio). A do sul começava na Tabatinha (bandas do Zacarias) e terminava no Itaguá (terra do velho Rita). O encontro se dava na Igreja Matriz, no dia maior da festa. Todas as famílias, tanto de um lado como do outro, ofereciam verdadeiros banquetes, fartos comes e bebes aos foliões e a todas as pessoas que faziam a peregrinação.

Nas casas em que a folia passava, depois das cantorias e rezas, as bandeiras eram guardadas com todo respeito em outra casa e a festa por ali continuava com muita alegria ao som dos violeiros, no ritmo dos bate-pés, na alegria das cirandas, cana verde, marrafa, chiba, e tudo que tinha direito, regado com muita concertada, vinhos e água benta.

Minha família sempre foi muito ligada à igreja católica, a cultura e ao folclore e tínhamos muito respeito por estas manifestações folclóricas religiosas.

Quando a folia chegava no bairro do Itaguá, eram pelo menos quatro dias de festa.

Papai tinha uma criação com mais de duzentos patos, todos eles muito bem cuidados e viviam nadando nas correntezas do rio Acaraú. Durante a festa a patalhada nadava dentro do caldeirão, em cima do fogão de lenha, para fazer o mata fome dos foliões que chegavam com a barriga no fundo. Era realmente uma festa, uma alegria, uma satisfação e benção quando a bandeira com o esplendor do Espírito Santo adentravam a nossa casa.

E assim, como tantos outros caiçaras, João de Souza lembrava da festa do Divino Espírito Santo. Hoje essa manifestação ainda resiste por essas beiras de praias caiçaras e pelos sertões brasileiros, mas não como nos moldes e fervor de antigamente.

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